Tenho de viver quase só, como alguém que tivesse sido
banido; só posso conviver com os homens na medida em que a absoluta necessidade
o exige. Se me aproximo das pessoas, sou tomado de um profundo terror e receio
expor-me ao perigo de que alguém se aperceba do meu estado. E assim tem sido
nestes últimos seis meses que passei no campo [...] que humilhação para mim
quando alguém ao meu lado ouvia uma flauta ao longe e eu não ouvia nada, ou
alguém ouvia um pastor a cantar e de novo eu nada ouvia. Tais incidentes quase
me levaram ao desespero, por pouco não pus termo à vida - só a minha arte me
deteve. Ah, parecia-me impossível deixar o mundo antes de transmitir tudo o que
sentia ter dentro de mim [...] Oh Providência - concede-me ao menos um dia de
pura alegria -, há tanto tempo que a verdadeira alegria não ecoa no meu coração
[...]1.
in, História da Música Ocidental