Não vás para tão longe! Vem sentar-te Aqui na chaise-longue, ao pé de mim... Tenho o desejo doido de contar-te Estas saudades que não tinham fim.
Não vás para tão longe; Quero ver Se ainda sabes olhar-me como d'antes, E se nas tuas mãos acariciantes, Inda existe o perfume de que eu gosto.
Não vás para tão longe! Tenho medo Do silêncio pesado d'esta sala... Como soluça o vento no arvoredo! E a tua voz, amor, como se cala!
Não vás para tão longe! Antigamente, Era sempre demais o curto espaço Que havia entre nós dois... Agora, um embaraço, Hesitas e depois, Com um gesto de tédio e de cansaço, Achas inconveniente O meu abraço.
Não vás para tão longe! Fica. Inda é tão cedo! O vento continua a fustigar Os ramos sofredores do arvoredo, E eu ponho-me a pensar E tenho medo!
Não vás para tão longe! Na sombra impenetrada, Como se agita e se debate o vento!... Paira nas velhas ruínas do convento
Que além se avista, A alma melancólica d'um monge Que a vida arremessou àquela crista...
Céu apagado, negro, pessimista, E tu sempre mais longe!...
4 comentários:
Por aí também.
Boas festas!
Festas,festas,festas, todas boas,alegres e parazenteiras...e com boa companhia ( é de dispensar a ovelha ,o burro, o boizinho..!
Ano bom ! Dias felizes!
:)))))
Distância
Não vás para tão longe!
Vem sentar-te
Aqui na chaise-longue, ao pé de mim...
Tenho o desejo doido de contar-te
Estas saudades que não tinham fim.
Não vás para tão longe;
Quero ver
Se ainda sabes olhar-me como d'antes,
E se nas tuas mãos acariciantes,
Inda existe o perfume de que eu gosto.
Não vás para tão longe!
Tenho medo
Do silêncio pesado d'esta sala...
Como soluça o vento no arvoredo!
E a tua voz, amor, como se cala!
Não vás para tão longe!
Antigamente,
Era sempre demais o curto espaço
Que havia entre nós dois...
Agora, um embaraço,
Hesitas e depois,
Com um gesto de tédio e de cansaço,
Achas inconveniente
O meu abraço.
Não vás para tão longe!
Fica. Inda é tão cedo!
O vento continua a fustigar
Os ramos sofredores do arvoredo,
E eu ponho-me a pensar
E tenho medo!
Não vás para tão longe!
Na sombra impenetrada,
Como se agita e se debate o vento!...
Paira nas velhas ruínas do convento
Que além se avista,
A alma melancólica d'um monge
Que a vida arremessou àquela crista...
Céu apagado, negro, pessimista,
E tu sempre mais longe!...
Fernanda de Castro, in "Antemanhã"
ARGONAUTA
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