terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Mário Botas, uma memória quase viva!







Hoje , ao passar na capelinha do Antreus, vi o desenho de uma menina de nome Beatriz de que gostei muito!
Veio o seu traço acordar-me para uma ideia que andava semi adormecida, o de relembrar um pintor de que sempre gostei muito e que não viveu muitos anos , Mário Botas!
Comecei por procurar o livro que ele ilustrou para um conto de Raul Brandão, “ O Senhor Custódio”.”
O Custódio era um negociante da nossa praça (Porto), que foi amigo do meu pai e que só conheci na velhice. Tipo baixo, trigueiro, de barba de passa-piolho,rico um dia, pobre no outro, e que parecia indiferente à vida do dinheiro.Com isto é extremamente bondoso. A nota característica da sua vida seria esta: não era a fortuna que ele procurava no negócio – era a agitação.”
…”A bem dizer cuido que o Custódio foi um grande poeta.” (livro editado pela Quetzal Editores e Fundação Casa Museu Mário Botas)-
Estória deliciosa e de ilustração a condizer com o estilo de Mário Botas. Um quadro vivo!

Mário Botas nasceu em 1952 e morreu aos 31 anos de idade!
Bem cedo soube que iria morrer , de leucemia, não fosse a sua formação académica em medicina, especialidade em psiquiatria…
Optou então pela escrita e pela pintura, mas foi nesta que decidiu expor-se na totalidade.
“Até afinar a própria voz, inconfundível, e poder chegar a esta conclusão literalmente final, percorreu , à velocidade com que viveu, muitas e múltiplas experiências.
Os seus desenhos são de inspiração surrealista, mas de um surrealismo subversivo, enquanto submissão contra censuras várias – política, policial, clerical, familiar – que sufocavam Portugal. “
Conheci Mário Botas e a sua pintura ,em 77, a quando das suas primeiras exposições, nos salões de Arte da Sociedade de Belas Artes. Já na altura especava de fronte das suas pinturas, quando o mote era o pequeno formato!
Também o olhava de longe, homem alto, magro, óculos redondinhos, impenetrável, como que acarretando o peso da morte que não tardaria!
Quase sempre o acompanhava o seu cão, penso que da família dos galgos, ou cão de água, não sei bem, só sei que se assemelhavam, confundiam e pareciam fugir das suas próprias sombras.
Mário Botas e a sua pintura sempre foram para mim uma emoção , porque emociona sempre saber o que nos vai fugir…
Aos 25 anos , quando lhe é diagnosticada uma leucemia, 23 de Dezembro e dia de aniv
ersário, escreve no álbum “Afrodisíacos”:
“ .
Geralmente este dia tem para mim sido de alegria – de receber presentes ou de os esperar receber. Hoje é para mim dia propício – se mais não fora por estar aqui – a meditações. Mas hoje já não há presentes para mim.
Estou a viver. Estou a viver de alucinações. As coisas são tão imperfeitas! E que terrível é o que de ti resta sob a terra.!
Estou como o ciclope quando lhe varam o olho: não sei de onde provém o meu mal! Virá ele de não haver mal nem bem neste mundo? Para que servem mesmo assim as distinções?O mal é tão terível como o bem! Só uma coisa os olha de cima: a indiferença..."

Bom, depois desta pequena viagem de afectos pela paisagem pictórica de Mário Botas, só sei que irei cumprir uma coisa que me falta. Um destes dias de primavera anunciada ,rumarei até à Nazaré para visitar a sua Casa Museu, fundada pelo seu pai!
Será também uma ideia para vós?

2 comentários:

salvoconduto disse...

Não conheci Mário Botas apesar de ser rapaz quase da minha idade, mas fica o convite. Quem sabe quando ali passar.

mdsol disse...

Mas que boa sugestão!

[ e olha, obrigada pelo que disseste lá no branco... eu também gosto de vir aqui]

:)))