domingo, 11 de novembro de 2018

11 de Novembro , aqui, em modo de poesia

A Guerra

E tropeçavam todos nalgum vulto, 
quantos iam, febris, para morrer: 
era o passado, o seu passado — um vulto 
de esfinge ou de mulher. 

Caíam como heróis os que não o eram, 
pesados de infortúnio e solidão. 
(Arma secreta em cada coração: 
a tortura de tudo o que perderam.) 

Inimigos não tinham a não ser 
aquela nostalgia que era deles. 
Mas lutavam!, sonâmbulos, imbeles, 
só na esp'rança de ver, de ver e ter 
de novo aquele vulto 
— imponderável e oculto — 
de esfinge, ou de mulher. 
David Mourão-Ferreira, in "Tempestade de Verão"