Prémio Nobel da Literatura André Gide escreve sobre o sono numa das suas obras mais conhecidas, “Os Frutos da Terra”.
“Adquiri o hábito de dormir frente à minha janela escancarada, como se estivesse ao relento. Nas noites demasiado quentes de Julho, dormi completamente nu ao luar; o canto dos melros despertava-me logo de manhãzinha; mergulhava na água fria e orgulhava-me por começar tão cedo a minha jornada. No Jura, a minha janela dava para um pequeno vale que em breve se encheu de neve; do meu leito, via a orla de um bosque; nele voavam corvos ou gralhas; de manhãzinha era acordado pelos pequenos sinos das manadas; perto de minha casa ficava a fonte onde os vaqueiros as levavam a beber. Lembro-me de tudo isso. Nos albergues da Bretanha, gostava de contacto com os lençóis rugosos com a roupa da barrela que cheirava tão bem. Em Belle-Isle, despertava com os cantos dos marinheiros; corria para a janela e via os barcos afastarem-se; depois descia até ao mar.
In Os Frutos da Terra, André Gide, Lisboa, 2007, Ambar