terça-feira, 28 de setembro de 2021

Memórias


 Esta semana morreu o “inventor do computador doméstico ZX Spectrum”, Clive Sinclair.

A sua filha deu a notícia.
Inventou a calculadora de bolso. Gostava de invenções pequenas e baratas, dizem os que conviveram com ele.
O novo deve ocupar pouco espaço. Clive Sinclair já o pressentia.
O volume e o ruído já não são elementos a elogiar.
As tecnologias não querem ocupar espaço exterior, metro quadrado ou cúbico. Trata-se, sim, agora, de ocupar a cabeça humana, as várias cabeças humanas — como se estas fossem o espaço concreto a ser invadido.
A geografia já está. Não há metro quadrado que não possa ser filmado.
A tecnologia avança, então, para a ocupação da biologia, não da geografia.
Uma coisa nova de grandes dimensões é uma coisa nova à maneira antiga.
Continuam a fazer-se torres bem altas, com tecnologia moderníssima, mas com pensamento desactualizado, que terminou no século XX ou, mais precisamente, com a tragédia do 11 de Setembro.
A queda das torres gémeas como sinal em forma de fogo do fim de uma forma de pensamento.
O pequeno ZX Spectrum, de Clive Sinclair, já o anunciava, de modo mais tímido. O novo, agora, no século XXI, quando aparece, não ocupa espaço nem faz ruído.
Mas como é que se aparece sem ruído nem ocupação de espaço?
Estranho, sim. É um aparecimento que se assemelha a um desaparecimento. Não se vê nem se ouve. Daí o perigo.
O que é silencioso e não ocupa espaço pode ser imortal. Tudo o que ocupa espaço pode ser destruído.

Gonçalo M. Tavares 

Revista E , Expresso de 2o21/09/24