Tu ensinaste-me a fazer uma casa:
com as mãos e os beijos.
Eu morei em ti e em ti meus versos procuraram
voz e abrigo.
em ti guardei meu fogo e meu desejo. Construí
a minha casa.
Porém não sei já das tuas mãos. Os teus lábios perderam-se
entre palavras duras e precisas
que tornaram a tua boca fria
e a minha boca triste como um cemitério de beijos.
Mas recordo a sede unindo as nossas bocas
mordendo o fruto das manhãs proibidas
quando as nossas mãos surgiam por tras de tudo
para saudar o vento.
E vejo ainda o teu corpo perfumado a erva
e os teus cabelos soltando revoadas de pássaros
que agora se recolhem, quando a noite se move,
nesta casa de versos onde guardo o teu nome.
De Joaquim Pessoa, in Poemas Portuguses do Adeus e da Saudade
2 comentários:
Que bom trazeres p J. Pessoa. Noutro di apensei que tinha de o trazer ao convívio.... Gosto!
beijinho
:))
O poema é lindo... reli-o pela 2ª vez e só depois reparei no título "Ausência". Fica-se tão cheia de ternura ao lê-lo que 'as palavras duras' se diluem no abrigo que foram outrora. Obrigada pelo Joaquim Pessoa!
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