«Às vezes, quando penso nos homens célebres, sinto por eles toda a tristeza da celebridade.
A celebridade é um plebeismo. Por isso deve ferir uma alma delicada. É um plebeismo porque estar em evidência, ser olhado por todos inflige a uma criatura delicada uma sensação de parentesco exterior com as criaturas que armam escândalo nas ruas, que gesticulam e falam alto nas praças. O homem que se torna célebre fica sem vida íntima: tornam-se de vidro as paredes da sua vida doméstica; é sempre como se fosse excessivo o seu traje; e aquelas suas mínimas acções - ridiculamente humanas às vezes - que ele quereria invisíveis, coa-as a lente da celebridade para espectaculosas pequenezes, com cuja evidência a sua alma se estraga ou se enfastia. É preciso ser muito grosseiro para se poder ser célebre à vontade. ...»
Excerto de "Crónica" de Fernando Pessoa, 1915, de uma selecção organizada por David Mourão-Ferreira, in «O ROSTO E AS MÁSCARAS"
3 comentários:
Tão bem escolhido, Anamar!
Também este texto me diz muito, muitíssimo...
Muito obrigada, foi um momento dos mais aprazíveis, o desta leitura.
Fica também um beijinho para ti :)
Interessante, este texto de FP! Infelizmente anda para aí tanta gente célebre à vontade, e a sentir-se feliz...
É verdade Justine e Ana Paula, este texto é muito acertivo e intemporal..., mas nos tempos que correm assenta que nem uma luva.....
Beijinho
:))
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