Anamar minha amiga
Esses são os mistérios das terras "de dentro" onde a vida nos surpreende...
Na minha infância, a ruralidade era uma certeza uma vez por ano. Algumas centenas de quilómetros abaixo moravam os meus avós. Sem luz, sem água,mas muitas galinhas, porcos, um burro, um macho uma mula,um carro que eles puxavam para levar donos à missa e visitar parentes. Terras de cultivo,uma nora, alpendres, oliveiras, alfarrobeiras e amendoeiras, as últimas, sem dúvida, as jóias da coroa.
E uma das conversas de Primavera andava à volta de "Esta ano há amêndoas???"
Sim, porque fazia toda a diferença. Já na altura era um produto bem pago mas nem todos os anos a coisa acontecia. A alternância não era certa. Caprichosa. Mas quando era ano de amêndoa, guardava-se dinheiro,os colchões engordavam, o amor era mais prazeiroso e a nossa "notinha"(a dos netos) era maior e os sorrisos sem dentes mais escancarados.
Ali o ritmo das estações e das tarefas não se confundia.
Ouvia-se os crescidos falar das colheitas, dos casamentos, dos filhos que tinham ido estudar para Faro, do comerciante de frutos que se seguravam demais nos preços...e inevitavelmente de "enforcamentos" de quem ficava sózinho.
E tudo parecia normal. Tão normal como as pequenas/grandes fortunas que se escondiam ou que jaziam no Banco, não para "adquirir coisas" para se contemplar. O papel do Banco ou a caderneta era um troféu,venerado como as fotos de família, consolo e prémio, porque o gozo era ver o número crescer e ficar gordinho como o porco do quintal...Comprar? O quê? Já tinham tudo.
Pelo que conta, não mudou muito a realidade que eu conheci porque a definição da felicidade é vasta, eterna e surpreendente.
Misterioso continua a ser o momento da decisão em que "os homens" precisamente "eles" vão buscar o baraço e o penduram na trave...
(Dizia-se por lá à boca pequena que era por causa da "prosta")
Levei muitos anos para perceber...
ERA UMA VEZ, frequentadora deste MAR, em comentário ao post anterior, uma amiga sempre presente, desde que o deseje. Hoje o "post" é dela
A fotografia do moinho . Disse-me o "olho vivo", o senhor X, de que falei anteriormente, que foi ele que o construiu, mas a Câmara de Odemira comprou-lho.
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