"Portugal é, neste momento, um país nu. Quer dizer, um país sem nenhum álibi histórico, entrincheirado na sua confinada faixa atlântica, sem possibilidade de sonhar outro sonho que não o seu próprio, caseiro. Nós passámos séculos a fugir de nós mesmos enquanto apenas portugueses. Fuga simultaneamente estelar e criadora que não permitiu nunca que nos encontrássemos connosco mesmos. Fomos sempre outros. Esta fuga é agora impossível. (...) A nossa aventura histórica é a de um povo que viveu sempre em bicos de pés, acima das suas possibilidades reais, esperando tudo de milagres que às vezes aconteciam. (...) Quando os desastres aconteceram, descobriu-lhe logo o antídoto, criando a especialidade lusitana por excelência de transfigurar os alcáceres-quibires reais em aljubarrotas ficticias."
Fotografias tiradas no paredão Cascais/Estoril. ARTE MAR, exposição de esculturas.
Excerto de texto de Eduardo Lourenço, partilhado com Simão Gorjão.
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