sexta-feira, 1 de novembro de 2013

"O culto dos mortos como uma poética da ausência"

... a progressão da campa individual, do jazigo, do 
epitáfio, da estátua e, por fim, da fotografia (relembre-se que a descoberta 
da fotografia — essa nova ilusão da paragem oval e sépia do tempo — é 
contemporânea da revolução cemiterial romântica) deve ser vista como 
uma consequência iconográfica dos novos imaginários, quer estes apontem 
para fins escatológicos, quer se cinjam à memória dos vivos. E, para que a 
simbólica do cemitério (a localização) lhes correspondesse, a materialização 
dos signos exigiu a fixação do cadáver (isto é, um monumento), de modo a 
ser nítida e inequívoca a evocação (a imagem, o símbolo, o epitáfio narrativos) 
e a identificação do ausente (a epigrafia onomástica)(47). Recorde-se que 
a antroponímia é uma forma de controlo social da alteridade do sujeito. 
Não surpreende, assim, que todo o dever de memória tenha de passar pela 
invocação (ou restituição) dos nomes próprios: a nomeação faz sair do 
esquecimento o evocado, renovando-lhe o rosto e a identidade...

Em http://www.artcultura.inhis.ufu.br/PDF20/f_catroga_20.pdf (clicar) , de Fernando Catroga

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