Só quem procura sabe como há dias
de imensa paz deserta; pelas ruas
a luz perpassa dividida em duas:
a luz que pousa nas paredes frias,
outra que oscila desenhando estrias
nos corpos ascendentes como luas
suspensas, vagas, deslizantes, nuas,
alheias, recortadas e sombrias.
E nada coexiste. Nenhum gesto
a um gesto corresponde; olhar nenhum
perfura a placidez, como de incesto,
de procurar em vão; em vão desponta
a solidão sem fim, sem nome algum –
– que mesmo o que se encontra não se encontra.
Jorge de Sena, Desencontro, poema
1 comentário:
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~ "... dias
~ de imensa paz deserta..."
~ Um poema desesperado!
~ Uma solidão confrangedora!
~ Dias iluminados e felizes, Ana.
~ ~ ~
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