“Todos eram grandes, grandes e tristes, ceando a mesma tristeza aos pedaços.
Talvez que a culpa de tudo tenha sido a luz do lampião meio mortiça que substituíra a luz que a Light mandara cortar. Talvez.
Feliz era o Reizinho que dormia com o dedo na boca. Botei o cavalinho em pé, bem perto dele. Não pude evitar de passar as mãos de leve em seus cabelos. Minha voz era um rio imenso de ternura.
— Meu pequerrucho.
Quando toda a casa estava às escuras eu perguntei baixinho:
— Tava boa a rabanada, não estava Totoca?
— Nem sei. Não provei.
— Por quê?
— Fiquei com uma coisa entalada no gogó que não passava nada… Vamos dormir. O sono faz a gente esquecer tudo.
Eu me levantara e fazia barulho na cama.
— Onde você vai, Zezé?
— Vou botar meus tênis do lado de fora da porta.
— Não ponha, não. É melhor.
— Vou pôr, sim. Quem sabe, se não vai acontecer um milagre. Sabe, Totoca, eu queria um presente. Um só. Mas que fosse uma coisa novinha. Só pra mim…
Ele virou para o outro lado e enfiou a cabeça em baixo do travesseiro.”
In “O Meu Pé de Laranja Lima”, José Mauro de Vasconcelos, edição Dinalivro
José Mauro de Vasconcelos, escritor brasileiro nascido no Rio de Janeiro em 1924, é autor, entre outras obras, de “O Meu Pé de Laranja Lima”, publicado em 1968, uma das obras mais populares da literatura portuguesa, traduzido em 52 línguas, um retrato social do Brasil século passado.
1 comentário:
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~ Lindo!
~ Emocionante!
~ Fico grata
pela generosa patilha.
~ Beijinho, querida Ana.
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