As crianças são o Tempo de Haver .
Sua presença no mundo é de gritos e protesto. Mas, às vezes, adaptam-se e isso implica uma luta quase heróica e anónima que a maior parte ignora.
Alimentam os dias dos homens, mas elas próprias são o espelho da solidão.
Em ses olhos enormes e grandes, uma criança contempla o mundo e não o entende. Ouve palavras e as palavras são flechas que lhe perturbam o sonho em que se refugia para sobreviver.
Tudo nelas é inicial e puro: o riso e a violência, o sonho e as lágrimas.
Projectadas para o alto, são estrelas cadentes.
...
Uma criança espera, no mundo.
E que o mundo lhe devolva a esperança para sempre.
Que os homens, por um segundo em cada dia, suspendam seus deveres mais urgentes e pense na criança que espera.
E lhe garantam a Paz.
E lutem pelo seu bem estar
E se envergonhem de ainda haver, sobre a abundância desnecessária de tantos, a sombra de milhares de crianças que sucubem da fome e da doença sem um vislumbre de ternura ou solução.
Que nós nos envergonhemos.
E que a dor não seja, nunca mais, como a solidão, uma palavra nos seus dias.
Que a CRIANÇA sorria ao mundo.
Que o mundo lhe conserve o sorriso.
Hoje. E para sempre.
De Matilde Rosa Araújo, Crónicas
O Tempo e Voz
Edição ITAU, s/d
Do livro da mesma autora, recolha de textos e poemas dos nossos queridos escritores e poetas de meados do séc. XX, A INFÂNCIA LEMBRADA,
Livros Horizonte, 1986
Um livro a que regresso sempre que me apetece sentir o amor ou desamor da vida de homens e mulheres que relembram a sua infância e relação com a Mãe.
Como a vida não muda para tantas e tantas crianças no mundo. Matilde, era uma referência para nos professores do 1º ciclo. Ainda guardo um pequeno livro, comprado no ITAU, no Campo Grande, Infância Perdida.
Imagem de crianças jamaicanas
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