domingo, 21 de julho de 2019



Lisboa
Digo:
«Lisboa»
Quando atravesso — vinda do sul — o rio
E a cidade a que chego abre-se como se do seu nome nascesse
Abre-se e ergue-se em sua extensão nocturna
Em seu longo luzir de azul e rio
Em seu corpo amontoado de colinas —
Vejo-a melhor porque a digo
Tudo se mostra melhor porque digo
Tudo mostra melhor o seu estar e a sua carência
Porque digo
Lisboa com seu nome de ser e de não-ser
Com seus meandros de espanto insónia e lata
E seu secreto rebrilhar de coisa de teatro
Seu conivente sorrir de intriga e máscara
Enquanto o largo mar a Ocidente se dilata
Lisboa oscilando como uma grande barca
Lisboa cruelmente construída ao longo da sua própria ausência
Digo o nome da cidade
— Digo para ver

Sophia M. Breyner 
1977
In Navegações, 1983

Fotografia tirada da Quinta de Almaraz, em Cacilhas

3 comentários:

Graça Pires disse...

Foi bom encontrar a Sophia aqui. É sempre um gosto tão grande lê-la…
Uma boa semana, Ana.
Um beijo.

Majo Dutra disse...

Regressar do Algarve a Lisboa, era para ela um duro dever.
Regressei da minha longa pausa...
Saudades.
Tudo bom.
Beijinho
~~~~

María disse...

Que bonito es Lisboa, preciosas imágenes.

Besos