Uma vez fui ao médico.
- Doutor, estou louco - disse. - Devo estar louco.
- Tem loucos na família? - perguntou o médico.
-Alcoólicos, sifilíticos ?
- Sim , senhor. O pior. Loucos, alcoólicos, siflíticos, místicos, prostitutas, homossexuais. Estarei louco?
O médico tinha sentido de humor, e receitou-me barbitúricos.
- Não preciso de remédios - disse eu. - Sei historias tenebrosas acerca da vida. De que me servem barbitúricos?
- A verdade é que eu ainda não havia encontrado o estilo. Mas ouça, meu amigo: Conheço por exemplo a história de um homem velho. Conheço também a de um homem novo. A do velho é melhor, pois era muito velho, e que poderia ele esperar? Mas veja, preste bem atenção. esse homem velhíssimo não se resignaria nunca a prescindir do amor. Amava as flores. No meio da sua solidão tinha vasos de orquídeas.
O mundo é assim, o que quer? É forçoso encontrar um estilo. Seria bom colocar grandes cartazes nas ruas, fazer avisos na televisão e nos cinemas. Procure o seu estilo se não quer dar em pantanas.
Arranjei o meu estilo estudando matemática e ouvindo um pouco de música. - João Sebastião Bach. Conhece o Concerto Brandeburguês nº5 ? Conhece com certeza essa coisa tão simples , tão harmoniosa e definitiva que é um sistema de três equações a três incógnitas. Primário, rudimentar. Resolvi milhares de equações. Depois ouvia Bach. Consegui um estilo.
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Excerto da prosa ESTILO. de Herberto Hélder , OS PASSOS EM VOLTA
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