NESTES ÚLTIMOS TEMPOS
Nestes últimos tempos é certo a esquerda fez erros
Caiu em desmandos confusões praticou injustiças
Mas que diremos da longa tenebrosa e perita
Degradação das coisas que a direita pratica?
Que diremos do lixo do seu luxo - do seu
Viscoso gozo da nata da vida - que diremos
De sua feroz ganância e fria possessão?
Que diremos de sua sábia e tácita injustiça
Que diremos de seus concluios e negócios
E do utilitário uso dos seus ócios?
Que diremos de suas máscaras álibis e pretextos
De suas fintas labirintos e contextos?
Nestes últimos tempos é certo a esquerda muita vez
Desfigurou as linhas do seu rosto
Mas que diremos da meticulosa eficaz espedita
Degradação da vida que a direita pratica?
Sophia de Mello Breyner Andresen, Julho de 1976
Óleo de Marc Chagall, "O Pincel da Liberdade"
Poema surripiado a António Pinho Vargas via FB.
Tocante, atual e cáustico...
1 comentário:
Receio estar a repetir-me, mas, quis o maior desgosto da minha vida que soubesse aquilo que poucos saberão: o lugar exacto onde repousa Sofia de Mello Brynner.
Cada vez que vou até lá "conversar" com a sua colega do lado, minha querida irmã mais nova, junto às pedras da praia que enfeitam a sepultura da poetisa, algumas flores que divido entre ambas.
Lembro as palavras de duas mulheres inteligentes que viveram, com idades diferentes, a esperança, e depois a alegria da liberdade.
Quis o doloroso acaso juntá-las.
As memórias de uma e de outra rondam o meu pensamento num "toque e foge", igual ao das borboletas que povoam o cimo daquela colina, junto a um moínho em ruínas.
E no entanto, continuam vivas entre nós.
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