sexta-feira, 27 de março de 2009

Dia Mundial do Teatro, ou...


Como dizia Jorge Silva Melo "mais um dia mundial da hipocrisia"..."neste dia 27 de Março, dia em que se insiste em comemorar o Teatro, nem isso já pode ser um atributo , nossa especificidade.

Hoje não seremos nós, gente do teatro. stripteseauses da verdade poética, que tem várias caras, que andam fechados os teatros, em ruínas, degradados, em perigo ou já foram demolidos - e poucos espectáculos se farão nesta noite.

Mas haverá almoços, discursos e jantares, debates e inquéritos.

E os hipócritas não seremos nós..."


A ópera, arte suprema do teatro! Porque vivemos num mundo de faz de conta, é a imagem baralhada entre o teatro e a ópera que aqui vos deixo, com os desejos de bom fim de semana!

Para a Maria...


A Primavera está por todo o lado, persegue-nos, e ainda bem! E não será por "morrer uma andorinha" que deixará de ser Primavera!
Li algures esta frase,"Talvez eles tivessem razão ao põr o amor nos livros... Talvez ele não pudesse viver noutro lugar." Ah! estes pensamentos fortes ajudam, são daqules escritos na pedra...
Por isso andamos sempre a remexer nos livros `a procura das palavras certas...
Mas não é o teu caso Maria! Tu já és um livro aberto de amor e raiva no cheiro da tua ilha!






Poema - "Narciso e Narciso"


"NARCISO E NARCISO...


Se Narciso se encontra com Narciso
e um deles finge
que ao outro admira
(para sentir-se admirado),
o outro
pela mesma razão finge também
e ambos acreditam na mentira.

Para Narciso
o olhar do outro, a voz
do outro, o corpo
é sempre o espelho
em que ele a própria imagem mira.
E se o outro é
como ele
outro Narciso,
é espelho contra espelho:
o olhar que mira
reflete o que o admira
num jogo multiplicado em que a mentira
de Narciso a Narciso
inventa o paraíso.

E se amam mentindo
no fingimento que é necessidade
e assim
mais verdadeiro que a verdade.

Mas exige, o amor fingido,
ser sincero
o amor que como ele
é fingimento.
E fingem mais
os dois
com o mesmo esmero
com mais e mais cuidado
- e a mentira se torna desespero.
Assim amam-se agora
se odiando.

O espelho
embaciado,
já Narciso em Narciso não se mira:
se torturam
se ferem
não se largam
que o inferno de Narciso
é ver que o admiravam de mentira.

De Ferreira Gullar