segunda-feira, 15 de junho de 2015

dizia-me sempre, "gosto tanto de ti, Ana"...

As "selfies" dos anos 60 , ou como sobras de fotografias a tirar para o BI ou para qualquer outro documento,  ou porque fazia parte do ritual fazer uma foto por ano, em que havia uma foto postal acoplada com meia dúzia de fotografias podiam eternizar,  ou não,  uma amizade. Um luxo.
O que restava, oferecíamos à família ou aos amigos do coração.
 Não éramos "oferecidas/os", como o somos hoje, quem o é, nas redes sociais ou no nosso pudico "voyeurismo"".. .
Isto vem a propósito de um dia triste que me vai fazer ir até Lisboa à Igreja de S. João de Deus. 
A Gigi deixou-nos esta noite.
A Gi, era uma grande amiga de infância e pré adolescência que partiu da Figueira da Foz aos 14 anos  para continuar a sua vida em Lisboa. Até ontem.
Estivemos anos sem nos vermos, anos que não me lembrei dela, a não ser quando mexia na caixinha das fotografias do tempo de liceu, que nos oferecíamos com promessas de amizade eterna ou  que jamais o nosso nome entrasse nas trevas do esquecimento , ou quando passava à porta da casa onde viveu.
Há uns 4 ou 5 anos, por um acaso, numa inauguração de uma exposição, uma mulher bonita de olhos verdes aproximou-se de mim, e perguntou se eu não era a Ana ... . Afirmei-me como tal, mas não a reconheci logo, a não ser quando os seus olhos e o olhar fizeram luz na minha "treva". 
Agarramo-nos uma outra, chorámos, rimos, tendo por momentos a assistência colado os olhos em nós a observar a grande obra de arte , que é o reencontro da AMIZADE. 
Mas... no meio disto tudo, e o que mais impressão me causou, é que eu não sabia que tinha sido tão importante na vida da Gi no período em que nos estimamos, desabafamos, entre lágrimas, muitas vezes, ou em gargalhadas muito vivas, que também as sabia dar. Confissão espontânea.
Encontramo-nos algumas vezes em Alvalade em longas horas de conversa e de pôr as nossas vidas em dia.
Adoeceu. Refugiou-se um pouco. Esperei que me chamasse. 
Tardou. Falamos por SMS dia 18 de Maio dia dos seus anos.
Procurei-a na sexta -feira . Internada. Iria visitá-la hoje. 
Ás 9 00h o telefone tocou , com o seu marido Jorge a dizer-me que a visita teria que ser num outro local se eu o desejasse. 
E, aí vou eu. Contrariada. Não era este espaço que eu desejava...
Só um apontamento. A Gigi e o marido Jorge eram melómanos." Mahlerianos" confessos e praticantes. Por isso aqui fica algo mais em sua homenagem e com a certeza de que o seu nome , carinho e olhos não entrarão" nas trevas do esquecimento".