sexta-feira, 2 de outubro de 2015

vou entrar em relaxação... com os suspeitos do costume (?)

 Este é o meu testamento de Poeta, Mário Cesariny, 1994
Foi suspeito de vagabundagem, perseguido porque era homossexual , coisa que o regime escondia debaixo do tapete da hipocrisia. "Tinha apresentações na polícia como as putas". Surrealista, seguidor de André Breton. escreveu poesia e esculpiu e pintou. Pintou a manta, teve muitos e bons amigos, zangou-se com alguns, teve saudades por vezes. Magríssimo, sempre com um cigarrinho, tinha grandes projetos e língua afiada. Queria traduzir a maravilhosa saga de Gilgamesh e dizia-o sob o olhar embevecido e composto de Henriette, a irmã, com quem vivia. Acordava sempre lá para o meio-dia mas de repente passou a levantar-se às oito da manhã, fresquinho, limpinho, a partir de 25 de abril de 1974. Como resistir ao poema "Pastelaria"?
"Afinal o que importa não é haver gente com fome porque assim como assim há muita gente com fome"

Texto de Ana Sousa Dias, Revista EGOISTA, junho, 2015