domingo, 15 de dezembro de 2019


LISBOA E A DÍVIDA AO ‘COCÓ’!
Talvez muitos lisboetas desconheçam que devem a Avenida da Liberdade aos ‘cocós’ alfacinhas — que nada têm que ver com excrescências, diga-se! Os ‘cocós’ eram pequenos doces folhados de cor castanha, feitos à base de creme de ovos e amêndoas picadas. Fizeram a fama e a fortuna da Confeitaria Rosa Araújo, aberta em 1840 na rua de São Nicolau pelo casal Silva Araújo. Manuel José e Eulália Rosa aumentaram a família nesse mesmo ano com o nascimento de José Gregório da Rosa Araújo. Consta que o pai sabia cativar a clientela miúda, chamando-os da porta: “Venha cá menino! Venha cá comer um cocó...” O filho começou aos 13 anos a servir na casa, herdando uma fortuna colossal, graças ao prestígio dos ‘pastéis de cocó’.
Eça de Queirós confirma-o em “O Primo Basílio”, onde Alves Coutinho os fixa como uma especialidade: “Para os folhados, o cocó!” A fama do pastel passou a epíteto do filho, o sr. Rosa Araújo, o ‘Cocó’, cidadão muito respeitado que chegou a presidente da Câmara de Lisboa. A sua obra mais emblemática e polémica foi a Avenida da Liberdade. Há 140 anos (agosto de 1879) o bondoso e afável Rosa Araújo, pagou do seu bolso 22.000$00 em expropriações para iniciar a obra que durou até 1886. Troçavam dele chamando-lhe ‘Barão dos Pastéis’ e ‘Haussman-Cocó’, mas foi com a sua herança de décadas a vender ‘cocós’ que se iniciou a cidade moderna, na zona norte da Baixa.
IN, REVISTA EXPRESSO DE 14/12/2019

~Gravura dos Restauradores, 28 de Abril de 1886