sexta-feira, 1 de maio de 2015

1º de Maio ou o "Moving Day"

Em Portugal e em outros países, a data escolhida para o dia internacional dos trabalhadores foi, desde logo, associada aos ritos de Primavera. Não admira. A articulação entre a regeneração da natureza e os desejos de regeneração social teria estado na génese da festa cívica moderna. De facto, por mero acaso ou não, já anteriormente o primeiro dia de Maio tinha sido palco de acções populares. E Mona Ozouf demonstrou que a festa da árvore da liberdade, que irrompeu nos inícios da Revolução Francesa, entroncava numa das tradições das "maias" camponesas, embora, na sua nova expressão, o rito constituísse um gesto simbólico de insurreição e de surgimento de um tempo novo. Por sua vez, no Estado de Nova Iorque, o 1º de Maio coincidia com o Moving Day, dia da renovação de alugueres e de contratos de toda a espécie, o que contribuía para a existência de um clima de transformação na sociedade.
Algo de parecido acontecia em Portugal. No Alentejo, os inícios daquele mês era o período das alterações e renovações dos contratos de arrendamento ou da sua quebra; em Lisboa, o do tempo do pagamento das rendas (o outro era Novembro), e o das mudanças nos preços e de domicílio. Em suma, na Primavera, a natureza predisporia os espíritos para aderirem a atitudes de renascimento, rebeldia e optimismo.
Fernando Catroga, O Céu da Memória. Cemitério romântico e culto cívico dos mortos em Portugal (1756-1911), Minerva, Coimbra, 1999, p. 249.


O que Joana Bernardes colocou no mural de A TEXTOS E PRETEXTOS DE FERNANDO CATROGA, no FB.