terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Este gato tem dono, o João...Outros há que gostariam de ser donos deste gato...


Dali tinha o desesperante costume de projetar gatos no ar para depois os poder fotografar, em pose surreal, ou seja, sem terem qualquer hipótese de chegarem inteiros ao chão. No fundo, ao contrário de Picasso, Dali não gostava de gatos, e fazia gala nisso. E Gala também, essa que já fora mulher,  e musa de Éluard, poeta que gostava de gatos e de cantar a liberdade como se cantasse a mais esplendorosa das amantes.
Sabe-se que um dos gatos, lançado no ar como um projétil de uma guerra a fingir, se viu subitamente apetrechado com um belo par de asas que lhe permitiram esvoaçar, triunfal, sobre a cabeça de Salvador Dali i Domènech, conde de Púbol, bufão de todas as cortes do génio, publicitário de si mesmo, arlequim do excesso e da estonteante violência das cores.

                                                         Fotografia de João Viana

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De José Jorge Letria, em AMADOS GATO (EXCERTO)

Fotografia Dali Atomicus