sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Bom fim de semana

Acordai.... para que não entre nas trevas do esquecimento...



Cuido não andar longe da verdade se afirmar que a minha Aventura Poética começou aí por volta de 1908, tinha eu os meus oito anos, no dia em que reparei (ou procedi como se reparasse) na existência das palavras, extraídas da vaza da algaraviada comum por homens estranhos, incumbidos da missão especial de dizerem o que mais ninguém ousava. (E o quê, afinal? Sei-o hoje por mal dos meus pecados. Lixo secreto, mutilação de sombras, punhais de que só resta o frio, galanteios de sonhos parvos, sexos desenhados na Lua, tentativas vãs de ressuscitar a Criança morta, o ilógico do outro lado da realidade, sóis ocos, fogueiras a arder por dentro das unhas, gritos iniciais, pavor da morte nua, paisagens e punhos cerrados contra ídolos de pó, desejo de embalar o planeta nos braços, regresso às origens, catarse…). No fim de contas, as palavras não serviam apenas para meter na ordem gaiatos descompostos, insultar as vizinhas linguareiras da cave ou adormecer com canções o ranho dos miúdos. Dispostas de certa maneira adquiriram outro significado, exprimiam sentimentos e valores que os homens só daquela forma se atreviam a desabafar em voz alta com cerimonial de ritmos pautados.
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Assim começa A Memória das Palavras I ou o gosto de falar de mim
De José Gomes Ferreira
Livro dedicado á sua companheira Rosália.