domingo, 14 de junho de 2009

Os gatos voadores de Dali


Tem-se falado de peixe e não há peixe sem um gato a rondar!… ou serão as memórias afectivas a funcionar? Será que os amados gatinhos hoje ainda comerão peixe ou lambiscam comidinha enlatada ? O que quer que seja é prazeiroso falar dos bichanos porque momento de prazer é do que estamos a precisar…

Então resolvi retomar mais uma estória, , do livro AMADOS GATOS, de JJLetria.

DALI E OS GATOS VOADORES

Dali tinha o desesperante costume de projectar gatos no ar para depois os poder fotografar, em pose surreal, ou seja, sem terem qualquer hipótese de chegar inteiros ao chão. …Ao contrário de Picasso, Dali não gostava de gatos, e fazia gala nisso. E Gala também, essa que já fora mulher e musa de Éluard ,poeta que gostava de gatos e de cantar a liberdade como se cantasse a mais esplendorosa das amantes.
Sabe-se que um dos gatos, lançado no ar como um projéctil de uma guerra a fingir, se viu subitamente apetrechado com um belo par de asas que lhe permitiram esvoaçar, triunfal, sobre a cabeça de Dali….
Agachando-se junto do pintor, sem público que pudesse provocar ou insultar, o gato pediu a Dali que lhe desse um nome….. E o pintor satisfez-lhe o desejo:
- De hoje em diante, chamar-te.às Dali, apenas Dali.
- E se eu quiser chamar-me Frederico Garcia Lorca?

O pintor respondeu à pergunta como se responde a uma provocação, ignorou o gato e beijou Gala nos lábios empalidecidos por uma enfermidade sem nome.
O certo é que o gato passou a ser tratado, desse dia em diante, pelo nome de Dali, tendo um pêlo tão luzidio e negro como os bigodes do legítimo utilizador do nome…

(
Excerto do livro Amados Gatos, de José Jorge Letria)