domingo, 24 de junho de 2018

Os Santos Populares - S. João à moda de Pessoa.

São João

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Mas, desçamos à terra,
Que, por enquanto, o ceu aterra, 
Porque antes d 'isso mette a morte.
Ha muita coisa desconhecida
Na tua vida.
Tens muita sorte
Em ninguem saber da partida
Que em mil setecentos e dezassete
Tu fizeste à Egreja constituida

Estás, eu bem sei, cansado
com o que a Egreja se intromette
Com tua vida e o teu divino fado.


(e) foi então que, para te vingar
E à maneira de santo, os arreliar
Desceste mansamente à terra
Perfeitamente disfarçado
E fizeste entre os homens da razão
Um milagre assignado,
Mas cuja assinatura se erra
Quando em teu dia, S. João do Verão,
Fundaste a Grande Loja de Inglaterra.
Isto agora é que é bom,
Se bem que vagamente rocambolico

Eu a julgar-te até catholico,
E tu sahes-me maçon.
Bem, ahi é que há espaço para tudo,
Para o bem temporal do mundo vario.
Que o teu sorriso doure quanto estudo
E o teu Cordeiro
Me faça sempre justo e verdadeiro,
Prompto a fazer fallar o coração
Alto e bom som
Contra todas as fórmulas do mal,
Contra tudo  que torna o homem precario.
Se és maçon - eu sou templario.


Esquece-te santo
Deslembro o teu indefinido encanto.

Meu irmão, dou-te o abraço fraternal.


(excerto integro e ortográfico de um poema de Fernando Pessoa, do livro acima mostrado e escrito em 12-0-1919 )

"A Criança Eterna acompanha-me sempre"

(Alberto Caeiro)