domingo, 1 de maio de 2016

1º de maio

Em Portugal, a tradição das festas cívicas (em sentido moderno) vinha do vintismo. E, a partir da década de 80, ela foi actualizada por liberais e republicanos com a promoção de "cortejos cívicos" em honra dos grandes precursores e encarnadores da "alma popular" ou "alma nacional". Porém, no 1º de Maio, o proletariado pretenderá afirmar-se como sujeito da história, qual novo Prometeu que, devido à missão que Cronos lhe atribuía, só poderia "considerar-se triunfante quando com ele toda a Humanidade triunfe, no triunfo supremo da Revolução social. De facto, tanto nos textos que propagandeavam o dia, como nos cenários que decoravam a festa, o espectáculo do 1º de Maio teatralizava uma certa ideia acerca da vocação histórica das classes trabalhadoras, estribando-se nos postulados essenciais da antropologia que, afinal de contas, dava sentido a toda esta "festa revolucionária" moderna: o humanismo prometeico e a crença na perfectibilidade do homem. Como se escrevia num panfleto, "a perfectibilidade humana tem paragens e tem acidentes através da História, mas tem contudo um definitivo ponto terminus (...). No 1º de Maio, o operariado de todos os países e, em particular o operariado português, consigna nas suas manifestações de solidariedade a sua grande fé, a sua irrevogável resolução de caminhar, caminhar até à realização prática do seu ideal", isto é, até à consumação da utopia.
Fernando Catroga, O Céu da Memória. Cemitério Romântico e Culto Cívico dos Mortos, Coimbra, Minerva Coimbra, 1999, p. 234.

Cartaz russo alusivo ao 1º de Maio de 1919

(gentilmente partilhado da página de FB, de A Textos e Pretextos de Fernando Catroga)