sábado, 7 de abril de 2018

"Os que amei onde estão ?"


Hoje, a freguesia de São Miguel do Rio Torto, concelho de Abrantes, homenageou dois filhos da terra. 
Ambos dois bons amigos, mas Fernando Catroga, de muito longa data, assim como sua mulher, a minha mais antiga e única amiga de adolescência, a Ana.  Sou um "bibelot" que de tempo a tempo enfeita a sua casa e partilha emoções. Por isso, não posso deixar passar este dia em branco, no qual também fui atirar o meu foguete. 
Deixo-vos o texto e poema de Antero que Fernando Catroga leu à porta da casa onde nasceu , assim como seu irmão Eduardo. Esta a sua ideia de pertença. Uma pérola.





 Esses que amei

         Pode-se ter dúvidas sobre o sentido da vida, mas elas diminuem quando existe um diálogo sadio com as nossas raízes. A “terra dos pais” é a nossa primeira pátria e alicerce da nossa “Pátria Grande”. E não se pode esquecer que ter pátria é ter memória, pois cada ausente traz consigo, colado à sola dos sapatos, o pó do solo sobre o qual aprendeu a cair, para se levantar do chão e caminhar de novo. E quem fica a amar a terra que o fez nascer nunca sai, verdadeiramente, do sítio de onde partiu.
De certo modo, ele é a nossa “mátria”, significado que a simples, densa e telúrica expressão a “minha terra” bem exprime. Daí que, mesmo nos casos em que esta foi ingrata para muitos dos seus filhos, perdure uma sensação de dívida e de gratidão para com um lugar simultaneamente físico e simbólico, revivificado pela sucessão das gerações, mas também pelas lições de futuro que podem ser bebidas na evocação do melhor do seu passado.
Por tudo isto, ao deambular por estas ruas, e ao olhar para as marcas do tempo inscritas nas rugas das casas e nos rostos de quem as habita, também vejo o invisível, e, seguindo o magistério de Antero de Quental, dou por mim a perguntar:

Os que amei, onde estão? Idos, dispersos,
arrastados no giro dos tufões,
levados, como em sonho, entre visões,
na fuga, no ruir dos universos…

 Mas se páro um momento, se consigo
fechar os olhos, sinto-os a meu lado,
de novo. Esses que amei: vivem comigo,

vejo-os, ouço-os e ouvem-me também,
juntos no antigo amor, no amor sagrado,
na comunhão ideal do eterno Bem.