domingo, 30 de abril de 2017

Uma forma adocicada de ir aparecendo ... By, by, April

(Come chocolates, pequena; 
Come chocolates! 
Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates. 
Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria. 
Come, pequena suja, come! 
Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes! 
Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folha de estanho, 
Deito tudo para o chão, como deitei a vida fora .


Álvaro de Campos, em Tabacaria

sábado, 22 de abril de 2017

Bom fim de semana e semana ainda melhor....

Fotografia tirada há 3 anos , no dia dos 40 anos  do 25 de Abril, numa tasca perto do Rossio. A mesa era o poiso.
Nunca deixei de gostar dela.
Tentem ser felizes.

quinta-feira, 20 de abril de 2017

" Um Choro Feliz"


«LIBERDADE» (1 poema de Paul Éluard)


LIBERDADE

Nos meus cadernos de escola
Na minha carteira e nas árvores
Nos areais e na neve
Escrevo o teu nome

Em todas as páginas lidas
Em todas as páginas brancas
Pedra sangue papel cinza
Escrevo o teu nome

Sobre as imagens douradas
Nos estandartes guerreiros
Tal como na coroa dos reis
Escrevo o teu nome

Nas selvas e no deserto
Nos ninhos e nas giestas
No eco da minha infância
Escrevo o teu nome

Nas maravilhas das noites
No pão branco dos dias
Nas estações enlaçadas
Escrevo o teu nome

Nos meus farrapos de azul
No pântano sol alterado
No lago luar vivente
Escrevo o teu nome

Nos campos do horizonte
Sobre umas asas de pássaro
Sobre o moinho das sombras
Escrevo o teu nome

Em cada sopro de aurora
Na água do mar e nos barcos
Na serrania demente
Escrevo o teu nome

Na clara espuma das nuvens
Nos suores da tempestade
Na chuva insípida e espessa
Escrevo o teu nome

Nas formas resplandecentes
Nos sinos de muitas cores
Sobre a verdade da física
Escrevo o teu nome

Nas veredas bem despertas
Nos caminhos descerrados
Nas praças que se extravasam
Escrevo o teu nome

Na lâmpada que se acende
Na lâmpada que se apaga
Nas minhas casas unidas
Escrevo o teu nome

No fruto partido em dois
do meu espelho e do meu quarto
Na cama concha vazia
Escrevo o teu nome

No meu cão guloso e meigo
Nas suas orelhas erguidas
Na sua pata sem jeito
Escrevo o teu nome

Na soleira desta porta
Nos objectos familiares
Na língua de puro fogo
Escrevo o teu nome

Em toda a carne que tive
Na fronte dos meus amigos
Em cada mão que se estende
Escrevo o teu nome

Na vidraça das surpresas
Nos lábios que estão atentos
Muito acima do silêncio
Escrevo o teu nome

Nos meus refúgios desfeitos
Nos meus faróis aluídos
Nas paredes do meu tédio
Escrevo o teu nome

Na ausência sem desejo
Na solidão despojada
Na escadaria da morte
Escrevo o teu nome

Sobre a saúde refeita
Sobre o perigo dissipado
Sobre a esperança esquecida
Escrevo o teu nome

E pelo poder da palavra
Recomeço a minha vida
Nasci para te conhecer
Nasci para te nomear


Giestas brancas, as minhas fotos.

segunda-feira, 10 de abril de 2017

domingo, 9 de abril de 2017

Leituras que me deixam bem disposta. Breves, mas boas.

               
 Bela prosa que só hoje li,  de José P. Pereira. Até vou para o sol mais bem disposta.

"É por isso que, se eu fosse o nosso secretário de Estado que teve com ele uma altercação, tinha levado para a circunspecta reunião o seu iPad ou iPhone, e punha-o a tocar uma música, como se fosse o hino nacional dos países do Sul, embora ela tinha sido escrita bastante mais para o Centro-Norte da Europa. E diria, olha lá ó Presidente, sabes como se chama esta música? Repara em cada palavra, copos, mulheres e música. “Vinho, Mulheres e uma Canção” (Wein, Weib und Gesang) de Johann Strauss é uma muito conhecida e popular valsa cujo título deriva de um adágio muito comum em várias línguas e que diz mais ou menos isto “quem não gosta de vinho, de mulheres e de música permanece um imbecil a vida toda”.   

Crónica completa, aqui.              

sábado, 8 de abril de 2017

As palavras dos outros.... Bom fim de semana

Não sei o que vocês vêem

Mas eu vejo sempre
Franklin Roosevelt a levantar-se
da cadeira de rodas
E Winston Churchill a discursar
no Parlamento britânico
E Bertold Brecht a dizer
'nunca digas que é natural,
para que nada possa parecer imutável'

E Jack Kerouac a atravessar a América
E 'when a man loves a woman',
na voz de um preto nítido
e de um branco insurrecto
E 'obviamente demito-o'!
Não sei o que vocês vêem
de tão natural assim
no horror das bombas e das demissões
de ser decente
Mas eu tenho para mim
que é preciso uma outra gente
bailados de Bob Fosse
e canções de Ute Lemper
Perdemos tempo no delta do Mekong
quando tínhamos o Tejo tão perfeito
E até o Ebro em desembarque
e as saias das dinamarquesas quando dançam
Ficámos parados
onde avançam sempre realidades
Há dois mil anos que temos
as fadas, as musas e as deusas todas
Falta realizá-las
(Márcio Alves Candoso)

Agradeço ao Márcio Candoso o post deste dia. Retirado do FB.

quinta-feira, 6 de abril de 2017

O mundo de Paula Rego está aí....

Paula Rego fotografada pelo seu filho, no seu ateliê em Londres.

Ler AQUI , jornal Expresso Diário.


Os quadros de Paula, são mesmo para serem vistos numa casa própria. 

Eles ganharam esse espaço em Cascais, Casa das Histórias de Paula Rego.
Pelo que tenho acompanhado da sua pintura, sempre senti " loucura" , "depressão", "educação", "relações": Estórias, que não seriam sempre lendas, mas narrativas da sua própria vida.
Pelo que tenho lido nas conversas e entrevistas na última semana, sou levada a pensar, que para além da grande desenhadora que é , a sua pintura corresponderá a um, penso logo existo ou existo porque penso?
Pintar, tem sido a sua própria existência e essa existência foi sempre bem mais dura do que era sabido. Catarse e engajamento .
Gosto de ir ver os trabalhos de Paula. Anseio por sábado para ver o filme realizado pelo filho, no local certo . Casa das Histórias. 
Cá em casa, se eu pudesse ter uma obra de PR, teria que ser muito bem escolhida.... Não dá para todos os dias de contemplação.

segunda-feira, 3 de abril de 2017

"as manhãs de Abril são boas para dormir" (provérbio)


De Almada Negreiros
Lentamente vou-me chegando até vós.
Esquecidos, não estão os que por aqui vão passando. 
Só adormecidos....