domingo, 15 de fevereiro de 2009

Há encontros felizes, com Michel Giacometti, aconteceu!




Andava há dias para relembrar uma estória de vida e pensei-a hoje bastante, depois de ter saído do Museu da Música.
São algumas as razões dessa vontade , não só pela pessoa em si, mas por um conjunto de coincidências, entre elas a de uma amizade efémera, quando eu era adolescente e que mais tarde se tornou numa boa amizade . Conheci Michel Giacometti numa das suas incursões pelo norte do país , ao fazer o levantamento das músicas e instrumentos de raiz popular, num trabalho de parceria com Fernando Lopes Graça.
Mais tarde venho viver para Cascais. Reencontramo-nos numa tertúlia de amigos comuns e comungamos momentos políticos e sociais num concelho que estimávamos, isto na década de 80! Ele não se tinha esquecido de mim…
E depois contarei porquê!
Fiquei feliz por ter o Museu da Música na Casa Verdades de Faria, que acolhe os seus instrumentos, depois de lutas titânicas, até que o município tomasse a decisão de os comprar e “arrumar” , ser ao pé da minha casa, no Monte Estoril e ter sido aí que o meu filho, aos 8 anos de idade se iniciou no estudo da guitarra clássica,quando funcionou a primeira escola de música da Costa do Estoril com o professor Nagi Pinheiro.
Conhecemo-nos em 1970, na Figueira da Foz, à mesa de um café de referência, onde eu estava com amigos supostamente idóneos, a quem Giacometti ia dirigido para hipotéticas ajudas logísticas, pois ele e a sua companheira da altura viviam parcamente, e os recursos para o trabalho que desenvolviam eram quase nulos!
Hora de almoço! Caras um pouco amarelas do cansaço e do estômago um pouco vazio. Os amigos “idóneos”, dois bons solteirões à época, de boas famílias e com responsabilidades politicas próprias da época,1970, um deles mais tarde veio a ter altos cargos ao serviço da nação… , arrancaram para as sopinhas das suas mamãs e deixaram-me o Michel nos braços!!!
Confessou que não tinha um centavo para comer!
Apesar dos conselhos maternos de que não se podia levar gente desconhecida para casa, levei-os até lá para ver o que se podia arranjar, pois para todos os efeitos a nossa casa era uma porta “aberta”!...
Havia feijão frade, atum e ovos cozidos e todos os complementos para uma boa refeição!...
Rimos, rimos de tudo e de nada, trocámos endereços, o seu, nunca mais esqueci, Rua dos Navegantes, 14, Cascais!
Eu na altura jamais pensei que pudesse escolher para o resto da minha vida o concelho aonde moro! Mas o destino tem destas coisas!
E quando nos reencontrámos, com a suspeita que já “algo”nos tinha acontecido, meio ridículo, foi como um primeiro dia do resto das nossas vidas de uma boa amizade que durou até ao seu desaparecimento.
E de vez em quando lá recordávamos, sempre gozando, os meninos da mamã, a quem o bom do Lousã Henriques , o tinha recomendado!
Coisas da vida! E não deixem de visitar o Museu da Música…,se ainda não o fizeram. Podia ser melhor , pelas referências que tenho de outros museus de música, mas é um edifício bonito ,idealizado pelo arquitecto Raul Lino, enquadrado num jardim agradável, e, está lá o espólio do bom Michel!

2 comentários:

virita disse...

Que sorte a do Giacometti! Mas eu sem ter o carisma de artista ,já desfrutei também de bom almocinho na mesma casa...Não digo mais porque poderão acorrer mais pessoas ...e em época de crise....!

mdsol disse...

Anamar:
Que bonita história a tua. Gostei tanto de a ler! Obrigada!
:)))