terça-feira, 14 de julho de 2009

Para o dia da França, um livro francês.

14 de julho, vamos até França...
Hoje, ao passar os olhos pela Bibloteca de Babel, e ao tomar conhecimento deste livro, ONDE VAMOS , PAPÁ? fiquei com vontade de o comprar, pois na minha vida profissional passou um trabalho profundo e inovador (anos 90) com crianças diferentes e cujas cumplicidades, alegrias e tristezas partilhadas com os pais ( leia-se mães)... provocaram momentos únicos!
Quem sabe se a vontade também não chega até vós? Partilhar a catarse de um pai , que ainda por cima o faz com sentido de humor, deve ser uma boa lição de vida.


«Toda a gente pensa nisso, como se pensa num tremor de terra, como se pensa no fim do mundo, numa coisa que só acontece uma vez. Eu tive dois fins do mundo», resume Jean-Louis Fournier, escritor, humorista e realizador de televisão francês. Tanto o seu primeiro filho (Mathieu) como o segundo (Thomas) revelaram, ao fim de poucos meses de vida, deficiências motoras e mentais profundas. Dito de outro modo: se o nascimento de uma criança normal (como viria a ser Marie, irmã mais nova de Mathieu e Thomas) representa um milagre, «uma criança deficiente é um milagre às avessas».Após várias décadas de silêncio sobre os filhos problemáticos, Fournier decidiu escrever-lhes um livro, mesmo sabendo que eles nunca o lerão. A ideia é resgatá-los do esquecimento, «para que não sejam apenas uma fotografia num cartão de invalidez». Retratá-los como eles, de facto, são. Ou eram. Um gesto que implica uma franqueza total, uma honestidade absoluta; certamente difíceis de assumir. Fournier não doura a pílula, não esconde as falhas próprias, não disfarça o desânimo, nem embeleza os remorsos: «Não fui um bom pai. Muitas vezes, não vos suportava, era difícil gostar de vocês. Convosco, era preciso uma paciência de santo, e eu não sou nenhum santo.» Espantosa, esta sinceridade.Por princípio, o progenitor de uma criança deficiente «não tem o direito de rir, porque isso seria do mais profundo mau gosto». Mas é essa linha que Fournier atravessa sem medo. Os filhos são flácidos, corcundas, frágeis como «avezinhas depenadas», com a cabeça «cheia de palha» e o corpo sustido por um espartilho ortopédico, de metal cromado e couro, que os assemelha a «guerreiros romanos de couraça». Ao falar deles, o tom oscila entre a ternura contida e o mais feroz humor negro. Exemplo: para Mathieu, que não consegue endireitar-se por falta de tónus muscular, o pai antevê a profissão de garagista. «Mas um garagista deitado. Daqueles que arranjam os carros por baixo nas garagens onde não há placa elevatória.» No fundo, ele troça dos filhos como Cyrano de Bergerac troçava do próprio nariz: criando uma distância irónica que é apenas um perímetro de segurança, uma linha de defesa contra a loucura.Sem que nada o fizesse prever, este livrinho quase sempre desconcertante (salvo nalgumas passagens mais delicodoces que lhe retiram alguma da força) foi uma das sensações da rentrée literária francesa de 2008. Além da boa recepção crítica e de uma presença de vários meses nos tops, com vendas superiores a 400 mil exemplares, arrebatou ainda o Prémio Femina.

1 comentário:

pin gente disse...

por razões... gostaria de ler.
obrigada, pela dica!
luísa