A RELATIVA ETERNIDADE
Cruzo a rua e vejo
sobre a montanha
para além da Lagoa
nuvens matinais
iluminadas
contra um céu muito azul
como na primeira manhã do mundo
(ainda que
em todos os dias do ano
quando faz sol
essa festa matinal se tenha
Cruzo a rua e vejo
sobre a montanha
para além da Lagoa
nuvens matinais
iluminadas
contra um céu muito azul
como na primeira manhã do mundo
(ainda que
em todos os dias do ano
quando faz sol
essa festa matinal se tenha
repetido
por séculos)
mas pouco importa:
é hoje manhã pela primeira vez
ainda que
antes de terem aqui chegado os portugueses
já ali estivessem a montanha
o céu azul
e as nuvens a se esgarcarem
quer houvesse
ou não
(como agora)
alguém para vê-los
e então me digo:
se o mundo dura tanto
e eu tão pouco
importa pouco
se ele não for eterno
mas pouco importa:
é hoje manhã pela primeira vez
ainda que
antes de terem aqui chegado os portugueses
já ali estivessem a montanha
o céu azul
e as nuvens a se esgarcarem
quer houvesse
ou não
(como agora)
alguém para vê-los
e então me digo:
se o mundo dura tanto
e eu tão pouco
importa pouco
se ele não for eterno
De Ferreira Gullar. do livro Em alguma parte alguma, José Olympio editora
Hoje, em S. Paulo, inaugura uma exposicão retrospetiva de F. Gullar, no âmbito dos seus 80 anos. Mas... eu estou a 400 Km. Só sonho...
4 comentários:
Anamar que gostoso saber que você ainda está no Brasil.Bons passeios e obrigada pela dica. bjs, Eliete
Regressei a casa, depois de uma rápida fuga até esse belo hemisfério sul. Lentamente, espero voltar a habituar-me a estes tons cinzentos. Do clima e da vida...
Lê-lo já é um provilégio! Grande, enorme poeta!
(ai que inveja...:))))
Boa memória
Bj
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