segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

... "nenhum gesto a um gesto corresponde"...

Só quem procura sabe como há dias
de imensa paz deserta; pelas ruas
a luz perpassa dividida em duas:
a luz que pousa nas paredes frias,
outra que oscila desenhando estrias
nos corpos ascendentes como luas
suspensas, vagas, deslizantes, nuas,
alheias, recortadas e sombrias.
E nada coexiste. Nenhum gesto
a um gesto corresponde; olhar nenhum
perfura a placidez, como de incesto,
de procurar em vão; em vão desponta
a solidão sem fim, sem nome algum –
– que mesmo o que se encontra não se encontra.

Jorge de Sena, Desencontro, poema

1 comentário:

Majo disse...

~
~ "... dias
~ de imensa paz deserta..."

~ Um poema desesperado!

~ Uma solidão confrangedora!

~ Dias iluminados e felizes, Ana.
~ ~ ~