quarta-feira, 27 de abril de 2016

Mário de Sá Carneiro, centenário da sua morte. Por aqui, "Confissões de Lúcio"



A Inegualável

Ai, como eu te queria toda de violetas 
E flébil de setim... 
Teus dedos longos, de marfim, 
Que os sombreassem joias pretas... 

E tão febril e delicada 
Que não podesses dar um passo - 
Sonhando estrelas, transtornada, 
Com estampas de côr no regaço... 

Queria-te nua e friorenta, 
Aconchegando-te em zibelinas - 
Sonolenta, 
Ruiva de éteres e morfinas... 

Ah! que as tuas nostalgias fôssem guisos de prata - 
Teus frenesis, lantejoulas; 
E os ócios em que estiolas, 
Luar que se desbarata... 

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 

Teus beijos, queria-os de tule, 
Transparecendo carmim - 
Os teus espasmos, de sêda... 

- Água fria e clara numa noite azul, 
Água, devia ser o teu amor por mim... 

Mário de Sá-Carneiro, in 'Indícios de Oiro' 

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