terça-feira, 31 de maio de 2016

"para atravessar contigo o deserto do mundo"



Para Atravessar Contigo o Deserto do Mundo

Para atravessar contigo o deserto do mundo 
Para enfrentarmos juntos o terror da morte 
Para ver a verdade para perder o medo 
Ao lado dos teus passos caminhei 

Por ti deixei meu reino meu segredo 
Minha rápida noite meu silêncio 
Minha pérola redonda e seu oriente 
Meu espelho minha vida minha imagem 
E abandonei os jardins do paraíso 

Cá fora à luz sem véu do dia duro 
Sem os espelhos vi que estava nua 
E ao descampado se chamava tempo 

Por isso com teus gestos me vestiste 
E aprendi a viver em pleno vento 

Sophia de Mello Breyner Andresen, in 'Livro Sexto' 

segunda-feira, 23 de maio de 2016

leituras breves , mas profundas...

O QUE ANDO A LER
Começa assim:
- Creio que o Professor Agostinho da Silva tem oitenta anos, não é?
- Eu também creio.

Agostinho da Silva desarma-nos logo na primeira resposta neste livro da jornalista Antónia de Sousa que se chama “O Império acabou. E agora?”. São “Diálogos com Agostinho da Silva”, reunidos numa só obra que revela a inteligência, o humor, a simplicidade, o raciocínio e a reflexão sobre um país que é o seu mas que não é como ele o desejava.

Está tudo condensado e ligado por uma invulgar capacidade de contar histórias e de dizer frases como esta: “Provavelmente, em todos nós, cada coisa que somos é apenas uma das coisas que podíamos ser.”


De Pedro Candeias, crónica de hoje, no Expresso diário.

domingo, 22 de maio de 2016

há quem viva de abraços, quem dê os laços e caia no nó....

 O LAÇO E O ABRAÇO 

Meu Deus! Como é engraçado! 
Eu nunca tinha reparado como é curioso um laço... uma fita dando
voltas. Enrosca-se, mas não se embola, vira, revira, circula e
pronto: está dado o laço. É assim que é o abraço: coração com
coração, tudo isso cercado de braço. É assim que é o laço: um
abraço no presente, no cabelo, no vestido, em qualquer coisa onde o
faço. 
E quando puxo uma ponta, o que é que acontece? Vai escorregando...
devagarzinho, desmancha, desfaz o abraço. 
Solta o presente, o cabelo, fica solto no vestido. 
E, na fita, que curioso, não faltou nem um pedaço. 
Ah! Então, é assim o amor, a amizade. 
Tudo que é sentimento. Como um pedaço de fita. Enrosca, segura um
pouquinho, mas pode se desfazer a qualquer hora, deixando livre as
duas bandas do laço. Por isso é que se diz: laço afetivo, laço de
amizade. 
E quando alguém briga, então se diz: romperam-se os laços. E saem
as duas partes, igual meus pedaços de fita, sem perder nenhum
pedaço. Então o amor e a amizade são isso... 
Não prendem, não escravizam, não apertam, não sufocam. 
Porque quando vira nó, já deixou de ser um laço!

Mário Quintana
Obra "Abraço" de Eliane Roedel
Da série Paisagem na Cidade

sexta-feira, 20 de maio de 2016

bom fim de semana...

Thinking Of Him Roy Lichtenstein

Os efeitos da cebola nova é no que dá.... Lágrimas e alguns suspiros.


Pois tudo era memória, acontecia
há muitos anos, e quem se lembrava, 
era também memória que passava,
um rosto que entre os outros rostos se perdia.

                         Manuel António Pina, Numa estação de metro

quarta-feira, 18 de maio de 2016

Dia Internacional dos Museus, a minha escolha para sábado...

 O Dia Internacional dos Museus, dedicado este ano à relação destes espaços com a paisagem cultural, celebra-se esta quarta-feira com entradas gratuitas em museus, palácios e monumentos, e uma programação de visitas, ateliês e encenações históricas.
Instituído pelo Conselho Internacional de Museus (ICOM), o Dia Internacional dos Museus tem este ano como tema "Museus e paisagens culturais", visando promover a ideia de museu enquanto centro territorial de proteção ativa da paisagem cultural.
O primeiro-ministro, António Costa, para assinalar a data, visita a partir das 12:00, a exposição “Lusitânia Romana. Origem de dois povos”, no Museu Nacional de Arqueologia, organização conjunta do museu português, com o Museo Nacional de Arte Romano, de Mérida, Espanha, com a colaboração científica da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.
Hoje, os museus, palácios e monumentos da tutela da Direção-Geral do Património Cultural (DGPC) têm entrada livre, na Noite dos Museus, a 21 de maio, estarão abertos gratuitamente, a partir das 17:30.
Cerca de 44 concelhos do país aderem às celebrações, nos seus 79 museus, monumentos e palácios, participando com dezenas de atividades como visitas guiadas, exposições, ateliês, teatro, palestras, concertos e lançamentos de livros, entre outras.
Em Lisboa, o Museu Nacional dos Coches promove, entre as 10:00 e as 17:30, o "Passeio Real por Belém", que faz um percurso pela zona histórica de Belém em charrete, com partida do novo edifício.
Também na capital, mas no dia 21 de maio, Noite dos Museus, às 18:00, o Museu da Água realiza "Os fantasmas do Loreto", uma visita comentada na galeria subterrânea do Loreto, com animação histórica que irá percorrer 1,2 quilómetros, entre o reservatório da Mãe d'Água, das Amoreiras, e o Reservatório da Patriarcal, no jardim do Príncipe Real.
Museu dos Coches
*informação TVI24

terça-feira, 17 de maio de 2016

Noite dos Museus está quase aí....

Vieira da Silva, Les lumières de la ville, 1950. Colecção particular.

Noite dos Museus|| 21 de Maio de 2016 ||
Entrada Gratuita
|| 10h00 - 23h00 ||

domingo, 15 de maio de 2016

uma outra forma de ver o "encarnado", hoje...

K.Malevich. Red Square
qualquer semelhança entre a razão que deu mote a este quadro de Malevich e o fim da tarde de hoje  em Portugal,  é pura coincidência...
É que há diferença entre o "vermelho" e o "encarnado". Não é?

sexta-feira, 13 de maio de 2016

sexta-feira dia 13...

Uma data para mim redonda. 
Não sou dada a superstições. Sou mais dada ao "mau olhado"... , porque olhos menos generosos e energias negativas, que os há, há. É como as bruxas, ".No creo en brujas, pero que las haylas hay»  ...
Olho para Binoche, e a fotografia sugere-me o tal numero redondo. Linda.

este deveria ser um tempo de cerejas...


terça-feira, 10 de maio de 2016

o carteiro toca sempre duas vezes...

ao terceiro toque, o melhor é não abrir a porta....

Hoje, foi o que me apeteceu, talvez por gostos também inconfessáveis.
...
Qual é o seu gosto inconfessável?
Essa pergunta tem resposta imediata:um tipo que se confessa tanto como eu não tem gostos inconfessáveis, tem gostos.E depois confessa-os, não por desplante, prosápia, gabarolice. Talvez por gosto. Não vou fazer trocadilho, mas é o gosto de revelar uma faceta humana, que em mim descobri, e transmiti-la a outrem . Gostos inconfessáveis na minha idade... isso nem ao S. Pedro confesso. É o confessor mais provável que tenho à minha frente.

...
Entrevistas a Luís Pacheco, O Crocodilo que Voa, edições Tinta da China

segunda-feira, 9 de maio de 2016

Wenceslau de Moraes, aconteceu ontem, na RTP2 - memórias -

Colagem de António Viana


A mania de escrever acarreta por si só muitos enfados, muitos desgostos, e até muitas desgraças. Eu tenho passado a vida a rabiscar coisas. Que tenho ganho com isso? Nada!”
W.M.
No âmbito das comemorações do 15.� aniversário do IPOR e 150.� aniversário de Wenceslau de Moraes, foi inaugurado a 4 de Outubro, na Livraria Portuguesa, a instalação de António Viana, intitulada" No Japão por não encontrar ensejo de ir mais longe. "
(aconteceu em 2004, no Japão).
Veio-me à memória depois de ver o programa na RTP2,  ontem, sobre o poeta , escritor, diplomata e figura ímpar de Wenceslau de Moraes.

quinta-feira, 5 de maio de 2016

Dia da Língua Portuguesa e algo mais a 5 de maio...

Hoje é o dia da Língua Portuguesa e o Expresso Diário decidiu fazer-lhe uma declaração de amor. 
(em jornal Expresso online).
Também hoje fazem 20 anos que o melhor homem da minha vida partiu. O meu pai.
Se hoje choveu muito, no dia 5 de Maio de 1996, o céu abriu-se como não tenho memória, para quedas torrenciais de água.
Só podia ser assim, pois a grandeza de alma , de ética, bondade, e a própria estatura, tinha que ter espaço para receber o pai Costa.

Gilr in Red Kimono



George Hendrik Breitner, Girl in Red Kimono

Exposição no Rijksmuseum, Amesterdão


12 Setembro 1857 – 5 Junho 1923
Pintor e fotógrafo alemão, viveu em Amesterdão e foi um grande impressionista 

domingo, 1 de maio de 2016

1º de maio

Em Portugal, a tradição das festas cívicas (em sentido moderno) vinha do vintismo. E, a partir da década de 80, ela foi actualizada por liberais e republicanos com a promoção de "cortejos cívicos" em honra dos grandes precursores e encarnadores da "alma popular" ou "alma nacional". Porém, no 1º de Maio, o proletariado pretenderá afirmar-se como sujeito da história, qual novo Prometeu que, devido à missão que Cronos lhe atribuía, só poderia "considerar-se triunfante quando com ele toda a Humanidade triunfe, no triunfo supremo da Revolução social. De facto, tanto nos textos que propagandeavam o dia, como nos cenários que decoravam a festa, o espectáculo do 1º de Maio teatralizava uma certa ideia acerca da vocação histórica das classes trabalhadoras, estribando-se nos postulados essenciais da antropologia que, afinal de contas, dava sentido a toda esta "festa revolucionária" moderna: o humanismo prometeico e a crença na perfectibilidade do homem. Como se escrevia num panfleto, "a perfectibilidade humana tem paragens e tem acidentes através da História, mas tem contudo um definitivo ponto terminus (...). No 1º de Maio, o operariado de todos os países e, em particular o operariado português, consigna nas suas manifestações de solidariedade a sua grande fé, a sua irrevogável resolução de caminhar, caminhar até à realização prática do seu ideal", isto é, até à consumação da utopia.
Fernando Catroga, O Céu da Memória. Cemitério Romântico e Culto Cívico dos Mortos, Coimbra, Minerva Coimbra, 1999, p. 234.

Cartaz russo alusivo ao 1º de Maio de 1919

(gentilmente partilhado da página de FB, de A Textos e Pretextos de Fernando Catroga)