sexta-feira, 20 de abril de 2018

Dia Mundial do Livro quase aí, mas já há festejos ....

   No âmbito do Dia Mundial do Livro que se festeja dia 23, deixo AQUI um apontamento da razão da sua existência. Coisa recente...
   Resolvi entrar na festa,  partilhando o livro que ando a ler . Apresentações para quê ? O autor é cá da casa, entenda-se o espaço dos livros...
   Tinha registado a dissertação sobre a cor da cidade de Lisboa, na página 15, a qual também tinha e tenho por hábito de chamar "cidade branca", por três razões :
1ª. porque gosto do branco. 
2ª por influencia do filme , como refere MdeC.
3ª por ternura pela cidade que realmente de "branca" tem pouco. 

Passo a transcrever o que tão bem o escritor descodifica, o homem que também me fez aprender a cor "magenta", através da leitura do seu livro, "A Sala Magenta". Cor de que parece muito gostar.

"Quanto à cor de Lisboa, de tons sempre variáveis com o fluir das estações e os caprichos dos sóis e das atmosferas, disponho-me a jurar e a declarar notarialmente que branca não é. Basta subir-se ao miradouro da Senhora do Monte, ali a S. Gens, ou ao terraço do Hotel Sheraton, ou àquele enorme edifício azul que fecha a alameda dom Afonso Henriques nos altos da Barão de Sabrosa, ou mesmo ao humilde convés dum cacilheiro, para poder verificar que a cidade, descontando o grená rugoso dos telhados, varia entre os rosas-suaves, os verdes esbatidos, os amarelos-doces, em milhentas tonalidades que não fazem mal à vista. Lá terá as suas brancuras aqui e além, mas estão preciosamente colocadas, para compor o todo.
   Mas isto dos gostos e de cores, parece que não é para discutir. Já foi, mas agora não é para discutir.

...

O que importa asseverar por agora é que,  ainda que a cor magenta não venha nos dicionários, o que quase a candidata à inexistência, lançada naquela rua, desmerece tanta gritaria e intolerância

Sempre gostei de Lisboa. Uma aprendizagem com o tempo e as circunstancias. Não sou lisboeta, mas quase... De cá para lá e de lá para cá, Lisboa/Cascais, mais a itinerância da vida de professora. E foi a atravessar o Tejo, de cacilheiro, durante quatro anos, e que a partir de Maio eu já me bronzeava e olhava apaixonadamente a partir do exterior do barco, a cidade, o Castelo de S.Jorge. Um enamoramento que por ironia do destino ou dos concursos,  atirou comigo e em boa hora , para a escola da freguesia do Castelo, para uma escola desconhecida de muitos e muito bonita, onde fiquei durante 10 anos. 
  Dali, a cidade não parecia branca, mas "grená rugoso dos telhados".

domingo, 8 de abril de 2018

"musas consentidas" . Uma leitura breve mas gostosa no dia de hoje. Assim era Picasso...



Belissimo artigo que CFA * fez para o jornal Expresso desta semana, Revista, sobre a relação de Picasso para com as mulheres, a sua compulsão feminina, misoginia, e o sofrimento dessas mulheres , consentido . "Viver com ele era difícil, mas sem ele era pior . Com Picasso o mundo era a cores, sem ele reinava o cinzentismo".
Para além da obra pictórica que sempre me arrastou para um outro além, para além de algum tempo de vida com arte e artista que fez parte de um percurso de vida , e porque há sentimentos transversais aos artistas , em qualquer arte, a sua personalidade sempre me aguçou a curiosidade e o desejo de saber mais.
Comecei há tempo a ler uma grande biografia de Picasso que continuou em stand-by ...

Excerto.

Após uma visita de Marie-Thérése a Dora Maar
....
   - Há muito tempo que me prometes casamento - disse-lhe ela tranquilamente . - (Marie-Therése)
Talvez pudesses tratar do teu divórcio .
   Picasso defendeu-se como podia : tinha sessenta e um anos. Já não tinha idade para casar. foi então que apareceu subitamente Dora. Ela queria intervir na discussão, mostrar que a questão do casamento  de Pablo com Marie-Thérèse nem sequer se punha :
   - Mas então Picasso, tu amas-me - dizia-lhe ela.
    Então Picasso, que se sentia intimidado a escolher, aplicou o golpe de misericórdia a Dora e disse-lhe :
   - Dora, sabes bem que a única que amo é Marie-Thérèse , aqui presente ...
    Esta última tirou da declaração do amante a força necessáriaa para dizer a Dora, apontando-lhe a porta:
   - E agora, saia !
   Que se iria passar? Picasso saboreou aquele instante.
    Dora recusou sair.
Marie-Thérèse voltou a pressioná-la.
Nova recusa.
As das mulheres empurram-se violentamente e deram uma bofetada uma à outra.
Mas Marie-Thèrèse, que fazia ginástica e tinha uma musculatura mais desenvolvida, era decididamente mais forte.
   Um empurrão lançou Dora para o patamar e a porta fechou-se com um estrondo.
   E em seguida ?
   Em seguida, nada se passou. Marie-Thérèse, depois de ter  ouvido Pablo dizer-lhe: «Sabes o  quanto te amo», fórmula em que não era avaro, restava-lhe descer, como habitualmente, as escadas do metropolitano, onde se juntava à enchente de passageiros ... Dora voltou para a Rue de Savoiene deitou-se na cama. Choraria durante muito tempo.
No dia seguinte, Pablo telefonou a Dora Maar para o ritual do almoço no Catalan, como se não tivesse passado nada. Mas, no fim de contas, segundo as suas pr´prias palavras, não são as mulheres«máquinas de sofrer»?



...

Eu,  acrescento no dia de hoje, querido Pablo, 45 anos após a tua morte, 8 de Abril de 1973,  meu" monstro" de duplo sentido, que a relação homem/mulher , mudou . Não tanto como o desejado, mas as relações sadomasoquistas e outros sentimentos,  fazem parte da natureza humana ...
Já fiz viagens para ver exposições tuas. Para esta em Londres não dá....  Na minha tão gostosa Tate. Aguardo o catálogo. 


* Clara Ferreira Alves
Imagens do texto na Revista do Expresso.

Excerto do livro PICASSO, de Henry Gidel

sábado, 7 de abril de 2018

"Os que amei onde estão ?"


Hoje, a freguesia de São Miguel do Rio Torto, concelho de Abrantes, homenageou dois filhos da terra. 
Ambos dois bons amigos, mas Fernando Catroga, de muito longa data, assim como sua mulher, a minha mais antiga e única amiga de adolescência, a Ana.  Sou um "bibelot" que de tempo a tempo enfeita a sua casa e partilha emoções. Por isso, não posso deixar passar este dia em branco, no qual também fui atirar o meu foguete. 
Deixo-vos o texto e poema de Antero que Fernando Catroga leu à porta da casa onde nasceu , assim como seu irmão Eduardo. Esta a sua ideia de pertença. Uma pérola.





 Esses que amei

         Pode-se ter dúvidas sobre o sentido da vida, mas elas diminuem quando existe um diálogo sadio com as nossas raízes. A “terra dos pais” é a nossa primeira pátria e alicerce da nossa “Pátria Grande”. E não se pode esquecer que ter pátria é ter memória, pois cada ausente traz consigo, colado à sola dos sapatos, o pó do solo sobre o qual aprendeu a cair, para se levantar do chão e caminhar de novo. E quem fica a amar a terra que o fez nascer nunca sai, verdadeiramente, do sítio de onde partiu.
De certo modo, ele é a nossa “mátria”, significado que a simples, densa e telúrica expressão a “minha terra” bem exprime. Daí que, mesmo nos casos em que esta foi ingrata para muitos dos seus filhos, perdure uma sensação de dívida e de gratidão para com um lugar simultaneamente físico e simbólico, revivificado pela sucessão das gerações, mas também pelas lições de futuro que podem ser bebidas na evocação do melhor do seu passado.
Por tudo isto, ao deambular por estas ruas, e ao olhar para as marcas do tempo inscritas nas rugas das casas e nos rostos de quem as habita, também vejo o invisível, e, seguindo o magistério de Antero de Quental, dou por mim a perguntar:

Os que amei, onde estão? Idos, dispersos,
arrastados no giro dos tufões,
levados, como em sonho, entre visões,
na fuga, no ruir dos universos…

 Mas se páro um momento, se consigo
fechar os olhos, sinto-os a meu lado,
de novo. Esses que amei: vivem comigo,

vejo-os, ouço-os e ouvem-me também,
juntos no antigo amor, no amor sagrado,
na comunhão ideal do eterno Bem.