Belissimo artigo que CFA * fez para o jornal Expresso desta semana, Revista, sobre a relação de Picasso para com as mulheres, a sua compulsão feminina, misoginia, e o sofrimento dessas mulheres , consentido . "Viver com ele era difícil, mas sem ele era pior . Com Picasso o mundo era a cores, sem ele reinava o cinzentismo".
Para além da obra pictórica que sempre me arrastou para um outro além, para além de algum tempo de vida com arte e artista que fez parte de um percurso de vida , e porque há sentimentos transversais aos artistas , em qualquer arte, a sua personalidade sempre me aguçou a curiosidade e o desejo de saber mais.
Comecei há tempo a ler uma grande biografia de Picasso que continuou em stand-by ...
Excerto.
Após uma visita de Marie-Thérése a Dora Maar
....
- Há muito tempo que me prometes casamento - disse-lhe ela tranquilamente . - (Marie-Therése)
Talvez pudesses tratar do teu divórcio .
Picasso defendeu-se como podia : tinha sessenta e um anos. Já não tinha idade para casar. foi então que apareceu subitamente Dora. Ela queria intervir na discussão, mostrar que a questão do casamento de Pablo com Marie-Thérèse nem sequer se punha :
- Mas então Picasso, tu amas-me - dizia-lhe ela.
Então Picasso, que se sentia intimidado a escolher, aplicou o golpe de misericórdia a Dora e disse-lhe :
- Dora, sabes bem que a única que amo é Marie-Thérèse , aqui presente ...
Esta última tirou da declaração do amante a força necessáriaa para dizer a Dora, apontando-lhe a porta:
- E agora, saia !
Que se iria passar? Picasso saboreou aquele instante.
Dora recusou sair.
Marie-Thérèse voltou a pressioná-la.
Nova recusa.
As das mulheres empurram-se violentamente e deram uma bofetada uma à outra.
Mas Marie-Thèrèse, que fazia ginástica e tinha uma musculatura mais desenvolvida, era decididamente mais forte.
Um empurrão lançou Dora para o patamar e a porta fechou-se com um estrondo.
E em seguida ?
Em seguida, nada se passou. Marie-Thérèse, depois de ter ouvido Pablo dizer-lhe: «Sabes o quanto te amo», fórmula em que não era avaro, restava-lhe descer, como habitualmente, as escadas do metropolitano, onde se juntava à enchente de passageiros ... Dora voltou para a Rue de Savoiene deitou-se na cama. Choraria durante muito tempo.
No dia seguinte, Pablo telefonou a Dora Maar para o ritual do almoço no Catalan, como se não tivesse passado nada. Mas, no fim de contas, segundo as suas pr´prias palavras, não são as mulheres«máquinas de sofrer»?
...
Eu, acrescento no dia de hoje, querido Pablo, 45 anos após a tua morte, 8 de Abril de 1973, meu" monstro" de duplo sentido, que a relação homem/mulher , mudou . Não tanto como o desejado, mas as relações sadomasoquistas e outros sentimentos, fazem parte da natureza humana ...
Já fiz viagens para ver exposições tuas. Para esta em Londres não dá.... Na minha tão gostosa Tate. Aguardo o catálogo.
* Clara Ferreira Alves
Imagens do texto na Revista do Expresso.
Excerto do livro PICASSO, de Henry Gidel
2 comentários:
Clara Ferreira Alves sempre atenta e a expressar tanta coisa que gostaria de ser eu a dizer... Obrigada por partilhares, Ana.
Uma boa semana.
Um beijo.
Sim, o artigo está interessante. E Picasso, como grande génio que foi, teve pontos luminosos e outros muito obscuros no seu carácter e percurso de vida...
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