sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Fim de semana a caminho.... Boa viagem

"Toco a tua boca, com um dedo toco o contorno do tua boca, vou desenhando essa boca como se estivesse saindo da minha mão, como se pela primeira vez a tua boca se entreabrisse e basta-me fechar os olhos para desfazer tudo e recomeçar. Faço nascer, de cada vez, a boca que desejo, a boca que a minha não escolheu e te desenha no rosto, uma boca eleita entre todas, com soberana liberdade eleita por mim para desenhá-la com minha mão em teu rosto e que por um acaso, que não procuro compreender, coincide exatamente com a tua boca que sorri debaixo daquela que a minha mão te desenha.

Me olhas, de perto me olhas, cada vez mais de perto e, então, brincamos de cíclope, olhamo-nos cada vez mais de perto e nossos olhos se tornam maiores, se aproximam entre si, sobrepõem-se e os cíclopes se olham, respirando confundidos, as bocas encontram-se e lutam debilmente, mordendo-se com os lábios, apoiando ligeiramente a língua nos dentes, brincando nas suas cavernas onde um ar pesado vai e vem com um perfu
C
me antigo e um grande silêncio. Então, as minhas mãos procuram afogar-se nos teus cabelos, acariciar lentamente a profundidade do teu cabelo enquanto nos beijamos como se tivéssemos a boca cheia de flores ou de peixes, de movimentos vivos, de frangância obscura. E, se nos mordemos, a dor é doce, e se nos afogamos num breve e terrível absorver simultâneo de fôlego, essa instantânea morte é bela. E já existe uma só saliva e um só sabor de fruta, e eu te sinto tremular contra mim, como um lua na água."

Julio Cortázar

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Utopias... O pássaro azul nunca virá. Coisas de poeta

O Portugal futuro é um país
aonde o puro pássaro é possível

Ruy Belo, O Portugal Futuro
Colagem de Fernando Azevedo, A cigarreira breve, 1986

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

"Medo"...

"pela janela, entre acácias e piteiras, vejo os barcos surgindo na bruma. o coração aéreo dos pássaros passa rente ao mar, e o mar põe-se a fulgurar, arde, cobre-se de plumas, levanta voo com os pássaros."

Pinturas de Mário Cesariny e excerto do livro "Medo" de Al Berto

Boa semana...


domingo, 2 de fevereiro de 2014

A cada um a sua casinha amarela.... João, lá tinha a sua...

Mão amiga lembrou que João César Monteiro faria hoje anos.
Somos conterrâneos.

 De quando em quando há conversas com "gentes" de família que foram seus colegas de escola e de loucuras já postas em prática à época.
Anos mais tarde viemo-nos a encontrar para os lados do Castelo de S. Jorge onde ambos trabalhávamos mas cada qual em seu "métier"...
Pena não ter registado o absurdo dos "talk shows" à mesa da "Tasquinha", em Santiago...Eu, sempre de corrida , pois só tinha 1h de almoço. Mas chegava para matar a minha curiosidade.
Sei, que devido às suas birras, ele não permitiu a estreia" As Bodas de Deus" num festival de cinema de que já não me lembro e fe-lo estrear na sala de cinema do Casino Peninsular da F. da Foz onde eu estava,  por acaso,  de fim de semana.
Na sala, só eu e a minha Mãe.
Por isso, posso gabar-me... que na estreia mundial do dito filme, só 2 espectadoras, "je" and" mammy...."

sábado, 1 de fevereiro de 2014

“Se os senhores representantes da Nação mais uma vez nos votarem ao olvido, resta-nos a certeza de que os marmeleiros ainda crescem nos pauis” Alfredo Costa em 1903

Manuel Buíça e Alfredo Costa foram assassinados (faz hoje 105 anos) porque -----> lutaram, ousaram lutar, pela liberdade

“Se os senhores representantes da Nação mais uma vez nos votarem ao olvido, resta-nos a certeza de que os marmeleiros ainda crescem nos pauis”
Alfredo Costa em 1903

– "Sou pelas greves, como sou por todos os meios de resistência empregados pelo fraco, pelo oprimido, em defesa dos seus mais legítimos interesses quando extorquidos pelo forte, arvorado em opressor. […] Sempre que um Patife tenta ferir a nossa dignidade ou um ladrão nos quer tirar a bolsa, é dever sagrado atirarmo-nos a ele sem olharmos às forças de que dispomos e às consequências da luta.[…] Para os patrões burgueses que nos exploram, e nós servimos sabujamente, vai o meu mais activo ódio e a minha viva repulsa."
Alfredo Costa - nas páginas de um jornal da época


Fonte , O Jornal a Batalha, Página do FB

Fim de semana possível... Bom de preferência

             Não conheço outra
linguagem que não seja 
                            a do orvalho

Jorge Sousa BragaArtist: 
Completion Date: 1930


quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

O Espantalho da "Praxe" Coimbrã.... Leituras breves

Das últimas páginas do livro:
«[...] Quer-me parecer que a praxe, constituindo um fim em si mesma e apelidada fraudulentamente de tradição por aqueles que confundem a antiguidade dum objecto com o seu caruncho e com a sua ferrugem, é a grande responsável por este estado de coisas. [...]
Eu e todos os que pensam como eu queremos ser divertidos, mas não queremos que nos obriguem a sê-lo; defendemos a graça, mas não a graça violentada; desejamos a alegria, mas quando é a alegria para todos, não bruteza e grosseria para uns e humilhação para outros; somos pela irreverência, pela reinação, pela piada, por isso não as queremos matar com regulamentos. E achamos que troçar os alunos do primeiro ano, simplesmente por serem do primeiro ano, que ofendê-los cobardemente sem lhes permitir defenderem-se está mal, mesmo que se fizesse em todas as universidades do mundo, mesmo que viesse dito nas Escrituras. [...]»

Livro datado de 1958

Fonte, FRENESI LOJA

"O Livro da Ensinança" ... ou o verdadeiro forró...


"
"O Livro da Ensinança de Bem Cavalgar Toda a Sela.".. Nova proposta de curso na Universidade Lusófona. AQUI

Aconteceu...

Aconteceu em Lisboa, em 1983. Peter Seeger , esteve entre nós.AQUI

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Leituras breves mas atuais...

 De um tempo sem memória porque sem futuro, sepultos todos sob um sol de morte fabricado por nossas mãos, apraz pensar que uma pintura como a de Cruz Filipe é um dos seus últimos memoriais fascinantes. E não estranhará supor que esta insólita construção do imemorial seja um dia a memória adequada a este nosso tempo sem ela.
Eduardo Lourenço
in «Cruz Filipe ou o Tempo Imaginário», Colóquio Artes, nº25, 1975
Pinturas de Cruz Filipe de 1980 e 2011

Texto apresentado no catálogo de AZARES DA EXPRESSÃO OU TEATRALIDADE NA PINTURA PORTUGUESA
ALGUMAS OBRAS DO CAM 1987