quinta-feira, 29 de novembro de 2012

" A ingratidão dos países, tal como a das pessoas, é acompanhada, quase sempre, pela falta de memória" "


quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Beethoven - Silencio.... o barulho foi de mais...


Leituras breves mas atentas...

Não podia ser, em minha opinião, mais acertivo, este estudo sobre o impacto da INTERNET(aqui) na nossa atenção e memória...
Uma luta que vou travando comigo própria 

"Há provas de que a atenção é crucial para a formação de memória, para o pensamento crítico e conceptual e, por isso, essas formas de pensar são extremamente importantes para aproveitar todo o potencial da mente humana"


Uma exposição que me e nos espera...Tanta coisa que Lisboa tem para nos oferecer...



Uma noite a mama de uma senhora entrou no quarto de
um homem e pôs-se a falar da sua irmã gémea.


Russel Edson/Fernando Botero

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Anoitecer...

Hoje, na Figueira da Foz, a fotografia do João Viana

Conversas com Jaime... A sua luta contra o "Merkeavelismo"


Quanto à Merkel, não tenhas pena da mulher! Esta filha do pastor não passa de uma banalíssima cínica, com um enorme apetite de poder... e nada mais!

A única coisa que a preocupa, a sério, é tentar passar a peneira ao eleitor alemão, em especial ao Alemão BURRO, para se ir aguentando no poleiro. Visões, ideais é coisa que lhe é completamente estranha, razão por que nunca será uma estadista, por muito que o tente fingir.

A crise veio apanhá-la totalmente desprevenida. Pôs-se a largar disparates a torto e a direito... indo sempe adiando as soluções dos problemas... programando tudo em função de eleições regionais... que foi perdendo, umas atrás das outras. Ao mesmo tempo que o preço para a solução do caso grego ia aumentando.

Depois apareceu Portugal, e as coisas mantiveram-se na mesma.

Mais: nem a Grécia nem Portugal vão sair do buraco em que estão, com esta política. Isto é tudo um LOGRO monumental que a mulher anda a encenar, por ser incapaz de atacar os problemas.

Esta política de vistas curtas, provinciana e incompetente, pode dar cabo não só da Zona Euro mas até de toda a UE.

E quem mais vai perder com isso é a Alemanha que afinal não passa de um colosso de pés de barro.

Por isso é uma pena que a Merkel seja uma medíocre - mas os restantes políticos europeus também não lhe ficam atrás.

Ou seja: ela não revelou a mínima competência para governar a UE. Mas também não se vislumbra alternativa para ela, fora da Alemanha.

A oposição alemã tem dois partidos (SPD, o partido dos Alemães pequeninos, fundado ainda no tempo de Marx; e os Verdes ambientalistas) com gente mais capaz do que o pessoal dos partidos clericais (CDU e CSU) e do minúsculo FDP, o partidinho dos capital grosso, dos farmacêuticos, dos banqueiros, dos ladrões, dos escroques, dos intrujões e dos mais reles filhos da puta que há neste país.

Portanto a Alemanha é um colosso de pés de barro, coitada.

domingo, 25 de novembro de 2012

"O mundo inteiro é um palco...."

 O mundo inteiro é um palco,
E todos os homens e mulheres são meros atores:
Eles têm suas saídas e suas entradas;
E um homem cumpre em seu tempo muitos papéis.
Seus atos se distribuem por sete idades. No início a criança
Choraminga e regurgita nos braços da mãe.
E mais tarde o garoto se queixa com sua mochila,
E seu rosto iluminado pela manhã, arrastando-se como uma lesma
Sem vontade de ir à escola. E então o apaixonado,
Suspirando como um forno, com uma balada aflita,
Feita para os olhos da sua amada. Depois o soldado,
Cheio de juramentos estranhos, com a barba de um leopardo,
Zeloso de sua honra, rápido e súbito na briga,
Buscando a bolha ilusória da reputação
Até mesmo na boca de um canhão. E então vem a justiça,
Com uma grande barriga arredondada pelo consumo de frangos gordos,
Com olhos severos e barba bem cortada,
Cheio de aforismos sábios e argumentos modernos.
E assim ele cumpre seu papel. A sexta idade o introduz
Na pobre situação de velho bobo de chinelos,
Com óculos no nariz e a bolsa do lado,
Suas calças estreitas guardadas, o mundo demasiado largo para elas,
Suas canelas encolhidas, e sua grande voz masculina
Quebrando-se e voltando-se outra vez para os sons agudos,
Os sopros e assobios da infância. A última cena de todas,
Que termina sua estranha e acidentada história,
É a segunda infância e o mero esquecimento,
Sem dentes, sem mais visão, sem gosto, sem coisa alguma.

[“As You Please”, Ato II, Cena VII, em “The Complete Works of William Shakespeare”, Edited by W. J. Craig, M.A., Magpie Books, London, 1992, 1142 pp.] 

As minha fotos, ontem , em dia de chuva, no Terreiro do Paço, Lisboa

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

A vida e o cinema ....



Después de Lucía,
passou no Festival de Cinema no Estoril. 
Um murro no estômago, de uma violência atroz , da relação entre jovens, o tal de "buylling", que leva um pai a fazer justiça pelas suas próprias mãos, pelo mal que fizeram à sua querida menina.
Hoje, capa de JN.... uma cena real, também com promessa de justiça feita pelas próprias mãos, de um pai ferido e magoado no seu âmago.
Uma vontade real de todos os pais que vêem monstros "de palmo e meio" (e sorrio...),  escalpelizar os da sua igualha. 
O filme a não perder...

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

"O Segredo de Beethoven", hoje, porque sim...


Ainda Beethoven... (continuação )

E, no entanto, o mesmo homem que assim se lamentava, no abismo da sua desgraça, tinha escrito, nesses seis meses passados no campo, a alegre e exuberante 2.a Sinfonia!

Beethoven tinha o hábito de compor ao ar livre, muitas vezes durante os seus longos passeios. Ele próprio dizia:


Perguntais onde vou buscar as minhas ideias? Isso não sei dizê-lo com o menor grau de certeza; elas chegam sem que eu as chame, quer directa, quer indirectamente. Quase poderia agarrá-las com as mãos, em plena Natureza, nos bosques, durante os meus passeios, no silêncio da noite, nas primeiras horas da madrugada. O que as desperta são esses estados de espírito que no caso do poeta se transmutam em palavras, e no meu em sons, que ressoam, bradam e trovejam até, por fim, tomarem dentro de mim a forma de notas2.

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Crises... mas as de Beethoven...

 A "melancolia" talvez se devesse à sua surdez. Esta surdez, o mais terrível dos males para um músico, começou a manifestar-se já em 1796, e foi-se agravando cada vez mais, até que, em 1820, Beethoven praticamente já não ouvia. No Outono de 1802 o compositor escreveu uma carta, conhecida como "testamento de Heiligenstadt", destinada a ser lida pelos irmãos após a sua morte; nela descreve, em termos comoventes, o seu sofrimento quando se apercebeu de que a doença que o afectava era incurável:

Tenho de viver quase só, como alguém que tivesse sido banido; só posso conviver com os homens na medida em que a absoluta necessidade o exige. Se me aproximo das pessoas, sou tomado de um profundo terror e receio expor-me ao perigo de que alguém se aperceba do meu estado. E assim tem sido nestes últimos seis meses que passei no campo [...] que humilhação para mim quando alguém ao meu lado ouvia uma flauta ao longe e eu não ouvia nada, ou alguém ouvia um pastor a cantar e de novo eu nada ouvia. Tais incidentes quase me levaram ao desespero, por pouco não pus termo à vida - só a minha arte me deteve. Ah, parecia-me impossível deixar o mundo antes de transmitir tudo o que sentia ter dentro de mim [...] Oh Providência - concede-me ao menos um dia de pura alegria -, há tanto tempo que a verdadeira alegria não ecoa no meu coração [...]1.
Adágio da 9.a Sinfonia, ouvir...

in, História da Música Ocidental

Sem palavras....


domingo, 18 de novembro de 2012

Bom domingo....

" Fugir de quem é magro, de quem não gosta de comer e de quem não ri."

François Rabelais (1494-1553)

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Quando se vai.... entranha-se e volta-se a ir.... Do melhor que se faz para formação de professores



 Jornadas Históricas, um evento já consolidado no calendário anual do Município de Seia, que este ano conta com a sua 15ª edição, vai abordar o tema “História e alimentação – saberes, cheiros e sabores”, num encontro agendado para os dias 15, 16 e 17 de novembro.
O certame vai decorrer no auditório da Casa Municipal da Cultura de Seia e contará com intervenções de oradores de reconhecido valor do ensino superior e de profissionais da viticultura. Durante os três dias estarão em debate a alimentação e as suas ligações à história, economia, sociedade, turismo, saúde e bem-estar, biologia, ciências naturais e medicina.
Coordenadas por Fernando Catroga, professor catedrático da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, as Jornadas são promovidas pelo Município de Seia, através do Arquivo Municipal, e têm como principal objetivo constituir um espaço de partilha de conhecimento, reflexão e debate.
Para os docentes do ensino básico e secundário, a participação na formação equivale a 1 crédito, acreditação do Conselho Cientifico Pedagógico de Formação Contínua, contabilizando para a progressão na carreira de do para a progressão na carreira de 

terça-feira, 13 de novembro de 2012

Jorge de Sena e a Figueira em "Sinais de Fogo"

O liceu findara, e. com ele, todo um estilo de obrigações de vida. E estas férias eram como que o refazer prévio de uma nova pele. Na Figueira, eu sentira precisamente isso . O meu tio que gastava as noites todas, e o dinheiro que ganhava, no Casino, levava-me às vezes consigo, em anos passados, e eu ficava vagueando, até me aborrecer, pelo salão de baile, os corredores, as antessalas, porque não me deixavam passar a porta do bar ou dos salões de jogo. Mas, nestas férias, não fora assim. Meu tio, afirmando categoricamente que eu era um «universitário», e que um universitário era, para todos os efeitos, maior e vacinado, arrancara-me da gerência um cartão de livre-trânsito. E eu, com alguns conhecidos de praia e um


primo meu (que nesse ano, também estava em casa do meu tio), circulava pelo casino todo, impante de importância. fazendo olhos de carneiro mal morto às «borboletas»do bar, que eram caras como o diabo. E tive mesmo um arranjo com uma delas, que me chamava seu «filho» ( o que me irritava) e me levava para o quarto dela.

Leio SINAIS DE FOGO  de Jorge de Sena. Há um entusiasmo natural da minha parte pelo que ele viveu nos anos 30/40 e o que eu vivi  , sendo eu figueirense, nos anos 60 /70
coisas há que não foram muito diferentes... 
Revivo o meu passado e o de amigos(as) que passaram durante anos  férias na Figueira, Rainha das Praias de Portugal  e as estórias de "namoridos" dos rapazes com espanholas  e as serviçais de hotelaria e domésticas que acompanhavam os seus "patrões" para as lides estivais... Mas , cada um na sua lide, claro está...

Excerto da pág, 62 do livro, Sinais de Fogo
Fotografias da Figueira, casino, Sala de Jogo e Salão Nobre e uma fotografia que deve ser do princípio do séc.XX



sábado, 10 de novembro de 2012

David Hockney, rei e senhor neste festival de cinema..




Logo, às 17 h na Casa das Histórias Paula Rego,abertura da exposição, "Hockney na colecção de Alberto Lacerda" e ainda o  filme que estreou hoje em Lisboa e que passa aqui no Estoril dia 18, A Bigger Splash, de Jack Hazan , além de outros documentários sobre o pintor.

Pinturas de David Hockney

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Momentos...


As mães são as mais altas coisas
que os filhos criam, porque se colocam
na combustão dos filhos, porque
os filhos estão como invasores dentes-de-leão
no terreno das mães.


Herberto Helder/Nick Fedaeff


in, Cultura Inquieta

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

As notícias do Jaime...(continuação) "A crise da União Europeia não é uma crise de endividamento"

 Beck, Ulrich (2012 )A Europa alemã. Novas paisagens de poder sob o signo da crise(Berlim: Suhrkamp Verlag)


I. Como a crise do euro dilacera a Europa – e como a liga [12-25]

5. A crise da União Europeia não é uma crise de endividamento [23-25]

     A crise financeira fez surgir uma rotura entre os países do Norte e os países do Sul da UE, que vai sendo agravada [24] através das crescentes multidões de fugitivos e dos custos resultantes do seu acolhimento. Efectivamente, os que fogem de perseguições, guerra civil e caos não sobrecarregam a Europa, na sua totalidade, mas sim, sobretudo, os funcionários das fronteiras dos países já mais enfraquecidos, como a Grécia, a Espanha, a Itália e Portugal. No regulamento fronteiriço da UE está em vigor a seguinte norma: o país onde chegam os fugitivos é também aquele em que tem de ser aberto e encerrado o processo de asilo. Embora recebam quantias compensatórias da UE, os países europeus meridionais sentem-se vítimas de um abuso e abandonados pelos outros. Só assim se compreende o motivo por que, nos países fronteiriços da Europa, financeiramente mais débeis, ocorrem cenas de descontentamento e xenofobia, cada vez com maior frequência, atingindo até dimensões de violência pura contra os fugitivos.
     Manifesta-se, aqui, o que está, hoje, em causa. Não se trata apenas de evitar o colapso do euro, mas de muito mais ainda: o colapso dos valores europeus – cosmopolitismo, liberdade e tolerância. Quem conceber a crise europeia como uma crise essencialmente económica, corre o risco de não poder ver aquilo que está, de facto, em causa: a questão de fundar uma Europa que esteja em condições de encontrar respostas para as mudanças fundamentais e os grandes desafios que se nos deparam, sem regredir para a xenofobia e a violência. Em primeiro plano, na crise europeia, parece girar tudo em torno de dívidas, de déficites orçamentais, de problemas financeiros. A questão fundamental, porém, a mais profunda, é a seguinte: Até que ponto pode, deve e tem que ser, ou vir a ser, solidária a Europa?
     Quem identificar a Europa com o euro... já está a renunciar à Europa. A Europa é uma aliança de antigas culturas universais e de potências hegemónicas, buscando uma saída para a sua história bélica. Na altivez dos Europeus do Norte para com os Europeus do Sul, alegadamente indolentes e indisciplinados, patenteia-se uma amnésia histórica e uma ignorância cultural que põem a nu uma grande brutalidade. Será mesmo necessário relembrar que a Grécia não é só país devedor, mas também o berço da Europa, das suas ideias e dos seus valores? Será que os Alemães já não sabem até que ponto a História da Cultura Alemã e a sua História da Filosofia são devedoras da Antiguidade helénica?
     Já Friedrich Nietzsche contrapôs à estreita autocompreensão nacional [25] dos Alemães uma autocompreensão europeia. «Não», reconhece Nietzsche, no seu livro Die fröhliche Wissenschaft (A Gaia Ciência), «nós [os apátridas] não somos [...] «alemães» o tempo suficiente para [...] podermos sentir alegria nas cordiais sarnas e septisemias nacionais com que, agora, na Europa, cada povo se isola dos outros, como se estivesse em quarentena». Este filósofo alemão critica, com veemência, «uma política que torna ermo o espírito alemão, ao envaidecê-lo» e propõe, como alternativa: «Somos, numa palavra – e há-de ser a nossa palavra de honra! –, bons Europeus, os herdeiros da Europa, os herdeiros ricos, opulentos, mas também sobrecarregados de deveres, de milénios de espírito europeu»! (21)
     Sem os valores da liberdade e da democracia, sem a sua origem cultural e sem a sua dignidade – a Europa nada será.    

Trabalho enviado por Jaime Ferreira da Silva , professor  universitário  jubilado, Bochum
Imagens Google 

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Notícias do Jaime..."Como a crise do euro dilacera a Europa - e como a liga

 Beck, Ulrich (2012)A Europa alemã. Novas paisagens de poder sob o signo da crise

(Berlim: Suhrkamp Verlag)

IBeck, Ulrich (2012)
A Europa alemã. Novas paisagens de poder sob o signo da crise
(Berlim: Suhrkamp Verlag)

I. Como a crise do euro dilacera a Europa – e como a liga [12-25]

4. Política interna europeia: o conceito de política, cunhado com base no Estado nacional, é anacrónico [21-23]

     Há já vários anos, escrevi no meu livro Die Erfindung des Politischen (A Descoberta do Político) o seguinte:

«O modelo da época moderna ocidental [...] tem que ser novamente discutido e redesenhado. [...] [Não se trata só de] uma política que se limite a aplicar regras (regelausführende Politik) mas também de uma política que as mude (regelverändernde Politik), [...] não só de política de mero exercício de poder (Machtpolitik) mas também de uma política criativa (Gestaltungspolitik). Encontramo-nos perante um número cada vez maior de perguntas, em situações que não podem ser abrangidas pelas instituições, conceitos e concepções correntes, que igualmente se mostram incapazes de lhes darem as respostas adequadas.» (15)

     Ao falarmos, aqui, de velhas regras e de instituições, estamos a referir-nos, antes de mais, às regras e às instituições políticas no âmbito de cada Estado-nação. A actual crise do euro mostra-nos, com insuperável clareza, que elas já não se adequam aos problemas e às tarefas. Por isso as regras têm de ser modificadas. No antigo mundo dos Estados nacionais seria impensável que os contribuintes da Alemanha, da Finlândia ou dos Países Baixos assumissem a responsabilidade por riscos orçamentais de outros países da Zona Euro ou pelas dívidas de bancos espanhóis. Mas até mesmo as regras, de cujo cumprimento a Comissão Europeia, o Banco Central Europeu e o Fundo Monetário Internacional fazem depender a concessão de novos créditos, na sua qualidade de instituições transnacionais, correm sempre atrás da crise que se vai agudizando de forma dramática. E também a ideia de que a Alemanha e outros países credores poderiam, através do pacto fiscal, controlar a política orçamental de outros países da Zona Euro está ainda presa, no fim de contas, à antiga perspectiva nacional. Igualmente aqui as regras deveriam ser, na verdade, modificadas de tal maneira que, no futuro, se torne possível uma política económica e financeira europeia comum. Se, porém, nos ativermos às regras antigas, como reivindicam aqueles que, junto do Tribunal Constitucional de Karlsruhe, processaram contra o “chapéu de chuva” de protecção permanente do euro MEE (Mecanismo Europeu de Estabilidade) e o [22] pacto orçamental – por ele atentar, segundo eles, contra a soberania orçamental do Bundestag (Parlamento Federal alemão), garantida constitucionalmente –, depressa se constata que as regulamentações e os procedimentos antigos são afinal demasiado pesados e morosos para poderem responder aos desafios actuais.
     Dizendo isto de outra maneira:  há um tempo para a pequena política que se contenta com a aplicação das regras, e há um tempo para a grande política da criatividade. A fim de se encontrar resposta adequada para a crise do euro – ou para os perigos da mudança climática e do capitalismo financeiro desregulamentado – carece-se da grande política. A ideia de que, na era dos riscos globalizados, seria possível agir segundo o lema «Nós vamos resolver isto sozinhos», acaba por se revelar uma ilusão fatal.
     Nestas condições, a simples distinção entre política interna e política externa deixa de se poder manter, de uma vez por todas. É precisamente na Europa da crise que observamos como as fronteiras se vão esbatendo, de maneira crescente. Muitos autores reivindicam, desde há anos, ou até mesmo décadas, uma «política interna europeia», uma política democraticamente legitimada, que se ocupe, empenhadamente, no interesse da UE, de áreas como a política social, educacional ou económica. Ora estamos a assistir, agora, a como está a surgir algo, em face da crise, a que se poderia chamar «política interna europeia», embora tenha pouco que ver com a reivindicação esboçada mais acima. Nos Estados-membros, a Europa está a tornar-se um tema de polítia interna: na Primavera de 2012, verificou-se isto aquando das eleições presidenciais, em França, e das eleições parlamentares, na Grécia; Alexis Tsipras, a nova estrela política grega, viajou, em Maio de 2012, até às capitais da UE, esteve em Berlim e em Paris, a fim de impressionar os eleitores, na Grécia, com as imagens da sua competência europeia. Na Alemanha, Angela Merkel encena-se como a chanceler de ferro, que não permite aos povos dos países meridionais continuarem com a sua falta de disciplina; as declarações de David Cameron, o “Premier” britânico, acerca de política europeia, têm como alvo despertar ressentimentos, por parte da população, e ser aplaudido pelos banqueiros, no mercado financeiro de Londres.    
     «Política interna europeia» significa, aqui, portanto que não há uma linha de orientação centrada no bem comum europeu, mas sim em eleições nacionais [23], nos meios de comunicação de massa e em interesses económicos.
     Até mesmo a política europeia do Presidente dos EUA Barack Obama, aliás, é, em grande parte, motivada pela política interna. Ao ser-lhe feita a pergunta por que motivo a crise do euro tinha importância para os EUA, respondeu Obama, em Maio de 2012: «A crise europeia também nos afecta porque a Europa é o nosso maior parceiro comercial. [...] Se, em Paris ou Madrid, diminuir a procura dos nossos produtos, isso poderia ter como consequência a redução das encomendas de fábricas em Pittsburgh ou Milwaukee.» (17) A crise do euro põe portanto em perigo empresas e bancos americanos e, deste modo, a reeleição de Obama. Lutando por um segundo mandato, o presidente está inquieto por causa da Europa. Merkel, porém, que, ela própria, em pensamento e acção também se guia pelo cálculo de poder da política interna, mostra-se (até agora) renitente. «Ela tem menos receio de um Barack Obama do que dos eleitores alemães», resume, lapidarmente, a revista Der Spiegel. (18)
     O caso inverso, ou seja, que o superior interesse europeu se sobreponha à política interna nacional é mais raro. Exemplo disso foi dado pelo ministro alemão das Finanças, Wolfgang Schäuble, ao defender aumentos salariais na Alemanha, para apoiar o euro. Desempenhou, então, por assim dizer, as funções de ministro europeu de política de tarifas salariais: «Está certo que os salários, actualmente, subam mais, aqui, do que em todos os outros países da Zona Euro. O aumento salarial, no nosso País, contribui também para atenuar os desequilíbrios no seio da Europa.» (19)  


  [12-25]

4. Política interna europeia: o conceito de política, cunhado com base no Estado nacional, é anacrónico [21-23]

     Há já vários anos, escrevi no meu livro Die Erfindung des Politischen (A Descoberta do Político) o seguinte:

«O modelo da época moderna ocidental [...] tem que ser novamente discutido e redesenhado. [...] [Não se trata só de] uma política que se limite a aplicar regras (regelausführende Politik) mas também de uma política que as mude (regelverändernde Politik), [...] não só de política de mero exercício de poder (Machtpolitik) mas também de uma política criativa (Gestaltungspolitik). Encontramo-nos perante um número cada vez maior de perguntas, em situações que não podem ser abrangidas pelas instituições, conceitos e concepções correntes, que igualmente se mostram incapazes de lhes darem as respostas adequadas.» (15)

     Ao falarmos, aqui, de velhas regras e de instituições, estamos a referir-nos, antes de mais, às regras e às instituições políticas no âmbito de cada Estado-nação. A actual crise do euro mostra-nos, com insuperável clareza, que elas já não se adequam aos problemas e às tarefas. Por isso as regras têm de ser modificadas. No antigo mundo dos Estados nacionais seria impensável que os contribuintes da Alemanha, da Finlândia ou dos Países Baixos assumissem a responsabilidade por riscos orçamentais de outros países da Zona Euro ou pelas dívidas de bancos espanhóis. Mas até mesmo as regras, de cujo cumprimento a Comissão Europeia, o Banco Central Europeu e o Fundo Monetário Internacional fazem depender a concessão de novos créditos, na sua qualidade de instituições transnacionais, correm sempre atrás da crise que se vai agudizando de forma dramática. E também a ideia de que a Alemanha e outros países credores poderiam, através do pacto fiscal, controlar a política orçamental de outros países da Zona Euro está ainda presa, no fim de contas, à antiga perspectiva nacional. Igualmente aqui as regras deveriam ser, na verdade, modificadas de tal maneira que, no futuro, se torne possível uma política económica e financeira europeia comum. Se, porém, nos ativermos às regras antigas, como reivindicam aqueles que, junto do Tribunal Constitucional de Karlsruhe, processaram contra o “chapéu de chuva” de protecção permanente do euro MEE (Mecanismo Europeu de Estabilidade) e o [22] pacto orçamental – por ele atentar, segundo eles, contra a soberania orçamental do Bundestag (Parlamento Federal alemão), garantida constitucionalmente –, depressa se constata que as regulamentações e os procedimentos antigos são afinal demasiado pesados e morosos para poderem responder aos desafios actuais.
     Dizendo isto de outra maneira:  há um tempo para a pequena política que se contenta com a aplicação das regras, e há um tempo para a grande política da criatividade. A fim de se encontrar resposta adequada para a crise do euro – ou para os perigos da mudança climática e do capitalismo financeiro desregulamentado – carece-se da grande política. A ideia de que, na era dos riscos globalizados, seria possível agir segundo o lema «Nós vamos resolver isto sozinhos», acaba por se revelar uma ilusão fatal.
     Nestas condições, a simples distinção entre política interna e política externa deixa de se poder manter, de uma vez por todas. É precisamente na Europa da crise que observamos como as fronteiras se vão esbatendo, de maneira crescente. Muitos autores reivindicam, desde há anos, ou até mesmo décadas, uma «política interna europeia», uma política democraticamente legitimada, que se ocupe, empenhadamente, no interesse da UE, de áreas como a política social, educacional ou económica. Ora estamos a assistir, agora, a como está a surgir algo, em face da crise, a que se poderia chamar «política interna europeia», embora tenha pouco que ver com a reivindicação esboçada mais acima. Nos Estados-membros, a Europa está a tornar-se um tema de polítia interna: na Primavera de 2012, verificou-se isto aquando das eleições presidenciais, em França, e das eleições parlamentares, na Grécia; Alexis Tsipras, a nova estrela política grega, viajou, em Maio de 2012, até às capitais da UE, esteve em Berlim e em Paris, a fim de impressionar os eleitores, na Grécia, com as imagens da sua competência europeia. Na Alemanha, Angela Merkel encena-se como a chanceler de ferro, que não permite aos povos dos países meridionais continuarem com a sua falta de disciplina; as declarações de David Cameron, o “Premier” britânico, acerca de política europeia, têm como alvo despertar ressentimentos, por parte da população, e ser aplaudido pelos banqueiros, no mercado financeiro de Londres.    
     «Política interna europeia» significa, aqui, portanto que não há uma linha de orientação centrada no bem comum europeu, mas sim em eleições nacionais [23], nos meios de comunicação de massa e em interesses económicos.
     Até mesmo a política europeia do Presidente dos EUA Barack Obama, aliás, é, em grande parte, motivada pela política interna. Ao ser-lhe feita a pergunta por que motivo a crise do euro tinha importância para os EUA, respondeu Obama, em Maio de 2012: «A crise europeia também nos afecta porque a Europa é o nosso maior parceiro comercial. [...] Se, em Paris ou Madrid, diminuir a procura dos nossos produtos, isso poderia ter como consequência a redução das encomendas de fábricas em Pittsburgh ou Milwaukee.» (17) A crise do euro põe portanto em perigo empresas e bancos americanos e, deste modo, a reeleição de Obama. Lutando por um segundo mandato, o presidente está inquieto por causa da Europa. Merkel, porém, que, ela própria, em pensamento e acção também se guia pelo cálculo de poder da política interna, mostra-se (até agora) renitente. «Ela tem menos receio de um Barack Obama do que dos eleitores alemães», resume, lapidarmente, a revista Der Spiegel. (18)
     O caso inverso, ou seja, que o superior interesse europeu se sobreponha à política interna nacional é mais raro. Exemplo disso foi dado pelo ministro alemão das Finanças, Wolfgang Schäuble, ao defender aumentos salariais na Alemanha, para apoiar o euro. Desempenhou, então, por assim dizer, as funções de ministro europeu de política de tarifas salariais: «Está certo que os salários, actualmente, subam mais, aqui, do que em todos os outros países da Zona Euro. O aumento salarial, no nosso País, contribui também para atenuar os desequilíbrios no seio da Europa.» (19)  

Enviado pelo Prof. Universitário Jubilado, Jaime Ferreira da Silva, , Bochum, Alemanha
Pintura do expressionista alemão Die Brucke, 1911



Vale a pena gastar 5 minutos por aqui....


Leituras breves... e tocantes

Tantos somos o que navegamos neste barco da incerteza... que Luís Osório nos pôs hoje à  disposição no FB.

"Um copo de vinho na companhia de um bom filme ou livro. Estar sozinho, viver sozinho, implica encontrar territórios de partilha connosco próprios. Há noites em que a falta de mais é dolorosa, mas acompanhados recordamos as noites de nós para nós. Viver na plenitude é estar permanentemente em falta: dos outros ou de nós. E depois há os medos. De o coração nos trair quando ninguém nos pode acudir, essas coisas. Pelo sim, pelo não nunca me dispo antes de ir para a cama, não se vá dar o caso de ser chamado "

Pintura de Edward Hopper, "Autmn" 

Toots Thielemans - Pausa para esta melodia de sonho...


segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Leitura breves...

                                                   Pintura de António Viana, anos 80

" Depois de termos subido uma grande montanha, só descobrimos que existem ainda mais grandes montanhas para subir."

Nelson Mandela

sábado, 3 de novembro de 2012

Notícias do Jaime.. Como a crise do euro dilacera a Europa – e como a liga.


De novo as notícias do Jaime e a continuação da sua tradução do livro de Ulrich Beck ,A Europa alemã. Novas paisagens de poder sob o signo da crise, das paginas 18 a 20.
Deixo aqui o link do post anterior.
Partilhemos pois a forma lúcida de Beck ver a Europa "sob o signo da crise"...



I. Como a crise do euro dilacera a Europa – e como a liga [12-25]

3. A cegueira da Economia [18-20]

     Em face da impossibilidade de se saber, ao certo, e da dificuldade de destrinçar as coisas que as modernas sociedades de risco produzem, por assim dizer, automaticamente – e para nos oferecerem orientação, nesta selva gnoseológica, estão disponíveis, hoje, multidões de especialistas, ou expertos, como agora se diz. E é verdade que os economistas, ao  pronunciarem-se sobre a crise, contribuem para tornar o mundo mais compreensível. No entanto os que «entendem o capital» (12) estão a reduzir, agora, de uma maneira estranha, a complexidade dos mercados financeiros globais: personalizam e emocionalizam o que acontece nos mercados, introduzindo conceitos sobre o estado de saúde – tirados de manuais de diagnósticos terapêuticos – na linguagem da bolsa, cunhada segundo parâmetros racionais. É por isso que lemos expressões como: nos mercados «os nervos estão à flor da pele», não se deixam «enganar», são «tímidos», estão «nervosos» e têm propensão para «reacções de pânico».
     Também se poderia dizer: a perspectiva económica, em termos sociais e políticos, é cega e causa a cegueira, os conselhos das Ciências Económicas, que dominam a discussão, assentam num «analfabetismo» político-social (Wolfgang Münchau). (13) Esta cegueira deriva, possivelmente, do facto de os economistas contemplarem o mundo sempre através de uns modelos quaisquer – e, se os modelos não se ajustarem à realidade, surge um problema. Wolfgang Münchau, no Financial Times, pôs o dedo na ferida:

«Os macro-economistas, em geral, não dispõem de um modelo adequado para a União Monetária Europeia. Confundem-na com um chamado «loose fixed-exchange-rate system» [ou seja, uma união monetária em que as cotações estão fixadas de acordo com determinados [19] parâmetros directores; UB], ou com um país com uma moeda única, portanto com sistemas para os quais dispõem de modelos. A uma união monetária, porém, não se podem aplicar estes modelos, por ela não ser nem um Estado, nem um acordo flexível combinado entre Estados, no qual os Estados-membro continuem a exercer a sua plena soberania. [...] É certo que continua a haver [nos respectivos acordos; UB] algum espaço de manobra para a adesão de Estados que, como a Dinamarca ou a Grã-Bretanha, decidiram não entrar já para o euro. Não há, porém, o mínimo espaço de manobra para a saída de um ou de mais países.» (14)

     É, precisamente, com base neste último ponto que se pode mostrar, com muita clareza, como os especialistas de Ciências Económicas estão a induzir em erro, com as suas propostas, tanto a área pública como a política. Muitos manifestam-se como se a saída da Grécia do euro fosse a solução. Depois – como está implícito, ou explícito, nesta mensagem – os Alemães deixariam de ter de «se sacrificar», em termos financeiros, por causa dos Gregos. Estas asserções, porém, têm pernas curtas e estão até mesmo erradas, pelo menos por quatro motivos:
     Primeiro: A saída de um Estado-membro do euro não está regulamentada. Poderia, quando muito, ocorrer apenas a pedido do país em causa. Os Gregos, porém, na sua maioria, querem continuar a fazer parte da união monetária.
     Segundo: Um retorno dos Gregos ao dracma provocaria um corte da dívida que iria afectar bancos e empresas, em todo o mundo – antes de mais as instituições financeiras alemãs, francesas e americanas que, anteriormente, tinham investido nas dívidas estatais gregas que eram, nessa altura, um negócio «favorável». Isto quer então dizer, na verdade, que uma saída dos Gregos da Zona Euro poderia desencadear, de novo, o perigo duma crise como a que foi provocada pela bancarrota do Banco Lehman Brothers.   
     Terceiro: Mesmo que os Gregos, no caso de saírem do euro, não viessem a receber quaisquer transferências do “chapéu de chuva” de protecção europeu, continuariam a ter direito, como país da União Europeia em dificuldades, a receber ajuda (o que, de resto, é o motivo por que os Britânicos são, de forma tão veemente, a favor de “eurobonds” [20] e da permanência da Grécia na Zona Euro – já que, de outro modo, também teriam de contribuir para essa ajuda). Como ninguém pode estar interessado em que a Grécia se afunde no caos e na anarquia – ou até que se torne, de novo, uma ditadura militar – os restantes membros da UE seriam obrigados a apoiar o Estado grego com somas que, ainda hoje, são inimagináveis e estão também por contabilizar. Os custos sociais que o retrocesso para o nacionalismo, talvez até mesmo também para a xenofobia, a violência e a ditadura iriam causar aos próprios Gregos, mas igualmente aos restantes Europeus e à comunidade mundial – é assunto que a perspectiva meramente economicista não pode, nem quer tomar em consideração. Por este motivo também ninguém está, realmente, em condições de poder «calcular» o que nos iria sair mais caro: se a permanência ou a saída da Grécia do euro.
     Quarto: Portanto faria muito mais sentido discutir se os Gregos não deveriam sair não só do euro mas também da UE. Um tal passo, porém, iria ter, antes de mais, consequências fatais para a própria Grécia, por ir ficar arredada do acesso a recursos de sobrevivência vitais (por exemplo, os fundos de fomento agrário da UE). Um tal passo, porém, teria igualmente consequências graves para os restantes Estados da UE, se tomarmos em conta que a Grécia (a par de países como a Espanha, a Itália, Portugal, etc.) protege a fronteira externa da União.
     O que uma saída do euro por parte da Grécia, ou de outros Estados endividados, iria, realmente, custar, não se torna portanto visível a partir dos modelos abstractos dos economistas: quem tiver feito poupanças perde grande parte do seu património, o Estado corre o risco de ficar arruinado, as camadas médias da sociedade de ficarem empobrecidas, os pobres ficam ameaçados pela exclusão social – e todos os Europeus ficam com um problema caro e de longa duração, em termos económicos, sociais e políticos. 

Tradução de Jaime Ferreira da Silva, professor universitário jubilado, Bochum
Fotografia de Ulrich Beck



   


sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Entre o aqui e o agora...



















Pintura de Edward Hopper, Square Rock, 1914, exposto na Gulbenkian, exposição AS IDADES DO MAR


Hoje, um amigo meu , disse-me que segundo  Marx, a vergonha é um sentimento revolucionário...
Não sei se me envergonhe ou fique triste...

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Lisboa recriada antes do terramoto .Super interessante...







Lisboa, Terreiro do Paço, 1640, segundo o pintor holandês, Dirk Stoop

Recriação do Terreiro do Paço antes do Terramoto se 1 de Novembro de 1755.
Muito interessante. VER AQUI